Um estudo inovador, publicado na Scientific Reports, do Grupo Nature, identifica biomarcadores moleculares que podem prever o desenvolvimento de edema cerebral grave em pacientes com AVC isquêmico agudo. Popularmente conhecido como derrame, o tipo isquêmico agudo é o mais comum de AVC, segundo o Ministério da Saúde.
Realizado em conjunto com os pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neurotecnologia Responsável (NeuroTec-R), a descoberta pode representar um avanço significativo para a Medicina. Trata-se de uma séria emergência médica que exige início rápido do tratamento.
Por outro lado, o paciente pode ter danos profundos e muitas vezes irreversíveis se o atendimento for demorado. Por este motivo, predizer casos de AVC agudo pode significar melhores resultados para os pacientes e até mesmo prevenir casos de morte. Os biomarcadores identificados oferecem novas possibilidades para tratamentos precoces e personalizados.
Detalhes da descoberta
Neurologistas e biólogos analisaram 45 pacientes com AVC isquêmico para identificar a presença de três biomarcadores principais: S100B, MMP-9 e IL-10. Os pesquisadores buscavam entender se a presença desses marcadores estava correlacionada ao desenvolvimento de edema cerebral maligno. O termo “edema” se refere a “inchaço”, uma complicação grave que pode aumentar significativamente o risco de morte ou incapacitação severa.
Os resultados indicam que níveis elevados da proteína S100B estão associados a um prognóstico desfavorável para o edema. Logo, a presença desse biomarcador, em combinação com outros fatores, como o IL-1 beta, possibilitou a criação de um modelo preditivo com 89% de sensibilidade e 85% de especificidade.
Importância dos biomarcadores
Uma das principais causas de morte no mundo, o AVC isquêmico agudo (PDF do Ministério da Saúde), é um evento neurológico súbito causado por isquemia, a diminuição ou suspensão da irrigação sanguínea no cérebro. O estudo explica que “pacientes com oclusão de grandes vasos correm alto risco de desenvolver edema cerebral significativo, o que pode levar a um rápido declínio neurológico”.
O inchaço cerebral, que frequentemente o acompanha, pode ter consequências devastadoras. Uma forma de prevenir danos cerebrais, por exemplo, é fazer a cirurgia de descompressão do cérebro, ou hemicraniectomia descompressiva. No entanto, o momento de realizar essa intervenção ainda é incerto. Atualmente, os médicos dependem principalmente de exames de imagem para identificar pacientes em risco de desenvolver edema.
Por estes motivos, o interesse pela exploração do papel dos biomarcadores no AVC isquêmico vem crescendo, especialmente devido ao seu potencial para prever casos de derrame. No entanto, uma análise do sangue de alguns pacientes poderia antecipar essa identificação e permitir que os médicos predissessem a gravidade da doença e os resultados clínicos.
Os biomarcadores moleculares forneceriam aos médicos ferramentas para a classificação de risco e tomada de decisões no tratamento. Por exemplo, a decisão pela cirurgia descompressiva do crânio pode aumentar as chances de sucesso do tratamento.
Caminhos para a validação dos biomarcadores
Esses achados ressaltam a necessidade de pesquisas adicionais para validar esses novos biomarcadores no contexto do AVC isquêmico. A validação dos mesmos poderia melhorar significativamente a detecção e o tratamento dessa grave condição.
Por isso, segundo os pesquisadores, é importante conduzir novos estudos prospectivos em larga escala. Estabelecer a utilidade clínica desses biomarcadores no caso proposto pode levar a novas estratégias terapêuticas, mais personalizadas e com melhores resultados para os pacientes.
Impacto na Ciência e na Sociedade
Essa pesquisa pode ajudar a personalizar as estratégias de tratamento. A incorporação de biomarcadores ao protocolo padrão poderia avaliar o risco de um paciente ter um AVC, ajudando a identificar complicações de forma mais rápida e eficaz. Isso permitiria que os médicos tomassem decisões baseadas em dados moleculares, antes mesmo do surgimento de sinais clínicos ou de imagem.
A identificação precoce do edema cerebral por meio de biomarcadores, portanto, pode revolucionar a abordagem clínica ao AVC isquêmico. Afinal, esses pacientes exigem cuidados intensivos e prolongados, o que por si, só, já justifica esse avanço por questões sociais, humanitárias e financeiras.
Essa pesquisa abre portas para o desenvolvimento de novos tratamentos fundamentados nos processos moleculares que levam ao edema cerebral. Além disso, se validado por novas investigações, esse avanço pode salvar vidas, reduzir incapacidades graves e diminuir os custos de tratamento.
Mais sobre a pesquisa
Os cientistas coletaram os dados entre 2016 e 2017. Essa coleta ocorreu em parceria com o Hospital Metropolitano Odilon Behrens, instituição localizada em Belo Horizonte, Minas Gerais. Os médicos acompanharam os pacientes durante 20 dias após o AVC.
O líder da pesquisa é o médico Alexandre Guimarães de Almeida Barros, professor do departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG. Ele também é pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neurotecnologia Responsável (Neurotec-R).
Outros renomados pesquisadores da área de neurociência são coautores deste estudo (veja relação abaixo). Seu vínculo institucional são com a Faculdade de Medicina e o Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, além de a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Dessa forma, se validado por novas pesquisas, a abordagem molecular pode salvar muitas vidas, reduzir incapacidades graves e diminuir os custos de tratamento.
Melhor prevenir
Segundo o Ministério da Saúde, “mais de 90% dos AVC estão associados a fatores de risco como: hipertensão arterial sistêmica (HAS), tabagismo, obesidade, dieta inadequada, sedentarismo, diabete melito, consumo de álcool, sofrimento mental, doenças cardíacas e dislipidemia”.
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Título: | Use of biomarkers for predicting a malignant course in acute ischemic stroke: an observational case–control study |
Autores: | Alexandre Guimarães de Almeida Barros, Lucas Roquim e Silva, Alberlúcio Pessoa, Antonio Eiras Falcão, Luiz Alexandre Viana Magno, Daniela Valadão Freitas Rosa, Marco Aurelio Romano Silva, Debora Marques de Miranda, Rodrigo Nicolato |
Revista: | Scientific Reports |
Vol. / No. | 13 (16097) |
Páginas: | 1-9 |
Publicado em: | 2023 |
DOI: | https://doi.org/10.1038/s41598-023-43408-z |
Atualizado em 14/10/2024, ás 17h20