Centro de Tecnologia em Medicina Molecular vai criar plataforma experimental de pequenos animais, o que vai permitir observar atividade cerebral em tempo real com 100x mais sensibilidade; Nova tecnologia francesa potencializa a pesquisa translacional no país
Parece algo distante no tempo, mas a UFMG já adquiriu um equipamento capaz de observar o cérebro em ação, em tempo real, com uma precisão 100 vezes maior do que a do ultrassom comum. O primeiro ultrassom funcional cerebral do Brasil acaba de chegar ao Centro de Tecnologia em Medicina Molecular (CTMM), da Faculdade de Medicina da UFMG.
“Trata-se de um passo decisivo para a ciência translacional e para o uso mais responsável e ético de animais de pesquisa”, comemora o professor Marco Aurélio Romano-Silva, coordenador do CTMM e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neurotecnologia Responsável (NeuroTec-R).
Segundo ele, o equipamento francês Iconeus One, que tem financiamento da Finep, inaugura no Brasil uma nova era em neuroimagem pré-clínica.
Baseado em ultrassom funcional (fUS), a saber esta tecnologia permite observar o fluxo sanguíneo cerebral com altíssima sensibilidade e excelente resolução temporal e de forma não invasiva. Isso significa dizer que se trata de um procedimento ou tratamento que não envolve cortes, perfurações ou inserções no corpo.
Essa tecnologia abre uma janela dinâmica para o funcionamento do cérebro. Isto é, ao captar variações no fluxo sanguíneo, o ultrassom funcional permite mapear a atividade cerebral com precisão quase milimétrica.
Na prática, significa que é possível acompanhar mudanças neurológicas ao longo do tempo em experimentos com pequenos animais — algo essencial para estudar doenças como epilepsia, Parkinson e Alzheimer.
Menos animais, mais dados, melhor ciência
Além de revolucionar a neuroimagem, o Iconeus One fortalece o compromisso ético do CTMM com os princípios 3R (Replace, Reduce, Refine).
Como os exames são não invasivos, os mesmos animais podem ser acompanhados em diferentes fases da pesquisa. Isso reduz significativamente a quantidade necessária em cada experimento, permitindo coletas longitudinais e, ainda, melhorando a reprodutibilidade dos dados.
“Esse tipo de plataforma permite refinar os experimentos e gerar resultados mais confiáveis com menos animais. Isso é ciência de ponta com responsabilidade”, resume o professor Marco Aurélio Romano-Silva.
Da pesquisa básica à clínica, e vice-versa
A instalação do equipamento também marca o início de uma plataforma de imagem pré-clínica na Faculdade de Medicina da UFMG, conectando o laboratório à clínica. Essa abordagem translacional, conhecida como “bench to bedside”, busca acelerar o caminho entre as descobertas científicas e o cuidado com o paciente.
Ao integrar essa nova ferramenta ao portfólio do CTMM, os pesquisadores passam a ter mais uma ponte entre a pesquisa fundamental e os ensaios clínicos.
A ultrassom funcional pode se somar, ou substituir parcialmente, métodos mais caros ou invasivos, como a ressonância magnética funcional (fMRI), especialmente em estudos que exigem alta resolução temporal ou longa duração.
Um novo capítulo para o CTMM
A chegada da nova tecnologia não apenas coloca o Brasil entre os países com acesso a métodos de neuroimagem funcional de última geração, como também cria as condições para iniciativas pioneiras em colaboração internacional, inovação e formação de novos talentos.
Ao abrir essa janela inédita para o cérebro, o CTMM está, em outras palavras, abrindo portas para o futuro da pesquisa biomédica no Brasil.
Próximos passos
A expectativa é de que, ainda em 2025, a nova plataforma de imagem pré-clínica comece a ser usada. Acima de tudo, em colaborações com grupos da UFMG e de outras instituições. Os projetos do NeuroTec-R vão permitir estudar, por exemplo, redes cerebrais, neurodesenvolvimento, comportamento e os efeitos de neuromodulação.
Também será possível aplicar a tecnologia em pesquisas sobre doenças neurodegenerativas e em estratégias terapêuticas baseadas em neurotecnologias implantáveis e não implantáveis.
* Texto atualizado em 12 de agosto de 2025, às 9h30. Foi reforçada a ideia de uso em animais logo no título.
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Texto: Marcus Vinicius dos Santos – jornalista CTMM Medicina UFMG