Versão pediátrica da Escala UPPs em português é crucial para acessar sintomas e construir sólidos e confiáveis conhecimentos científicos sobre transtornos externalizantes e uso de drogas
O comportamento impulsivo tem como característica principal a incapacidade que uma pessoa tem de resistir às tentações e aos impulsos, ou de agir sem o devido planejamento. Ou seja, trata-se de um fenômeno complexo. Certamente, com padrões cognitivos e comportamentais que são centrais em transtornos psiquiátricos.
Apesar de muito importante para a devida abordagem de diferentes casos, a compreensão das consequências imediatas e a longo prazo da impulsividade ainda é um desafio para os profissionais da área.
Por isso, um passo firme foi dado por um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neurotecnologia Responsável (NeurocTec-R). Os resultados foram publicados, em forma de artigo, no Jornal de Pediatria, da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Tradução, adaptação linguística e validação da versão
Yuri de Castro Machado desenvolveu o trabalho como parte de sua tese de doutorado no programa de Pós-graduação em Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da UFMG. A orientação ficou a cargo do professor Marco Aurelio Romano-Silva, coordenador do NeuroTec-R e chefe do departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da UFMG.
Junto com seus colaboradores eles traduziram, adaptaram linguisticamente e validaram a versão em português brasileiro da “Impulsive Behavior Scale”, ou Escala do Comportamento Impulsivo (UPPS-P). Seja como for, o instrumento original foi criado pelos psicólogos clínicos estadunidenses Stephen Whiteside e Donald Lynam. A escala adaptada mede impulsividade em jovens.
Em suma, o processo de adaptação para o português brasileiro seguiu rigorosos procedimentos, envolveu um teste piloto, e teve garantidos sua clareza e confiabilidade.
Consistência interna elevada e concordância com outras escalas
A escala UPPS-P avalia de forma eficaz e simples a compreensão clínica de um tratamento em crianças e adolescentes de 7 a 17 anos. “Demonstramos consistência interna elevada e uma concordância robusta com as medidas obtidas por meio de outras escalas relacionadas a transtornos psiquiátricos”, afirma o pesquisador.
Eles usaram amostra diversificada de crianças e adolescentes, aliada a uma robusta análise estatística. Dentre os vários aspectos analisados, se pode destacar a alta “Confiabilidade Interna” para a pontuação total do UPPS-P e cada subescala.
“Da mesma forma, a “Estabilidade temporal”, avaliada pelo coeficiente de correlação intraclasse. Portanto, isso mostrou forte correlação entre a avaliação inicial e o acompanhamento de quatro meses”, afirma o pesquisador.
O tipo de aplicação ou interface do teste, ou seja, se em papel/caneta ou se online, também não afetou a confiabilidade.
“O estudo confirmou a robustez do questionário UPPS-P para avaliar impulsividade em crianças e adolescentes brasileiros”, afirma Machado. O estudo validou adaptabilidade cultural e confiabilidade do instrumento em diferentes condições.
O cientista explica também que o rigor científico foi primordial para evitar discrepâncias nas medidas. O cuidado também é necessário para que se possa aprimorar as conclusões obtidas com as pesquisas nessa área e científico produzido.
Simples e eficiente
Organizada na forma de um questionário breve, a escala UPPS-P é gratuita. Acima de tudo, profissionais de saúde podem usá-la como instrumento para avaliar a impulsividade em comportamentos externalizantes.
Em outras palavras, definimos como externalizantes os comportamentos que apresentam agressividade, hiperatividade, impulsividade, desafio e atitudes antissociais. Essa classificação se dá em oposição a padrões de comportamento internalizantes, como medo, retraimento e ansiedade.
A escala avalia comportamentos relacionados ao uso ou abuso de substâncias tóxicas. Além disso, podem levar a dificuldades de adaptação e sofrimento na fase infantojuvenil e também na vida adulta.
A Escala adaptada mede impulsividade em jovens
A UPPS-P é subdividida em cinco dimensões da impulsividade: Urgência Negativa, Falta de Perseverança, Falta de Premeditação, Busca de Sensações e Urgência Positiva. Avalia-se cada uma dessas dimensões em quatro fatores. Em resumo, permite transformar a avaliação em algo numérico e objetivo.
Ao todo são vinte pontos, com respostas em escala ordinal de quatro pontos. Além disso, a soma dos itens reflete a prevalência de impulsividade, sendo pontuações mais altas indicativas de maior impulsividade.
Apoio
O estudo teve apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
LEIA O ARTIGO | |
Psychometric properties of the Brazilian Portuguese version of the UPPS-P impulsive behavior scale for children and adolescents | |
Yuri de Castro Machado, Jonas Jardim de Paula, Leandro Fernandes Malloy-Diniz, Débora Marques de Miranda, Marco Aurelio Romano-Silva | |
Revista: J Pediatr (Rio J) | |
Vol./Número: 99(6) | |
Páginas: 588–596 | |
Publicado em: Nov-Dec 2023 | |
Online: 2023 mai. 29 | |
DOI: 10.1016/j.jped.2023.04.008 |
Redação: Marcus Vinicius dos Santos – Jornalista CTMM Medicina UFMG