Já viu o mapa interativo de tendências dos estudos do cérebro?

Já viu o mapa interativo de tendências dos estudos do cérebro?
O levantamento, rigoroso, comprova desde que a abordagem da neurociência é eminentemente interdisciplinar, mas vem tendendo para a saúde, quanto também que o grande volume de financiamento feito nos Estados Unidos foi decisivo para o avanço científico na área. Investimento pode ter moldado o ritmo das descobertas e das colaborações internacionais, desde a “década do cérebro”, nos anos de 1990 - Freepik.com

The Transmitter e World Wide Neuro usam inteligência artificial para mapear cerca de 350 mil resumos científicos, dos últimos 50 anos, e mostram como a neurociência básica está mudando e para onde seus praticantes acreditam que ela está caminhando


A evolução da neurociência nas últimas cinco décadas acaba de ganhar um, digamos, retrato. Um mapa interativo inédito, produzido em conjunto pelo site The Transmitter e pela World Wide Neuro, indica o atual estado global da pesquisa em neurociência.

A partir desse “retrato” é possível acompanhar o surgimento e a ascensão dos principais tópicos da área. Como cresceu, caiu ou mudou de caminho o tratamento de temas como Alzheimer, neuroinflamação e inteligência artificial, dentre outros, ao longo dos anos.

Método arrojado reviu 50 anos

A equipe aplicou análise semântica a 345.953 resumos de outras pesquisas publicadas entre 1975 e 2024. Com ajuda de modelos de inteligência artificial (IA), cada texto foi “lido” para extrair até dez termos centrais, como Alzheimer, fMRI ou plasticidade sináptica, entre tantos, os quais foram agrupados por categorias: doenças, métodos, moléculas, e assim por diante.

Em seguida, os termos analisados foram organizados usando deep learning e uma ferramenta chamada UMAP, da sigla em inglês Uniform Manifold Approximation and Projection. Esta ferramenta é capaz de reduzir a complexidade dos dados e distribuir os conceitos avaliados em um mapa conceitual bidimensional usado para visualização e análise de dados complexos.

Ali, palavras relacionadas aparecem próximas, formando um “relevo”: Áreas altas representam temas recorrentes; áreas baixas, tópicos menos abordados. As cores mostram tendências recentes. Já os tons quentes indicam crescimento nos últimos cinco anos; tons frios, queda.

O resultado final foi um quadro que permite observar o que ganhou força, o que perdeu espaço e o que permanece central na neurociência. A visualização da mudança dos termos mostrou a mudança relativa na frequência de publicação de palavras-chave ao longo do tempo.

O uso da técnica facilita acompanhar a trajetória das 50 palavras-chave mais citadas nas últimas décadas. Para evitar distorções, sinônimos e siglas foram revisados manualmente.

Principais tendências

O termo mais frequente em 2024, por exemplo, é Alzheimer. Ele foi identificado em 6,2% dos resumos. Segundo o estudo, o aumento acompanha a urgência científica por novas terapias e biomarcadores.

Há também crescimento expressivo de termos relacionados à neuroinflamação, como “estresse oxidativo” e “ferroptose”, um tipo específico de morte celular que depende de ferro. 

Essas palavras-chave mostram que processos imunológicos nos neurônios, os, mecanismos inflamatórios no cérebro, estão ganhando destaque. Entre os métodos, o crescimento de IA, deep learning e análise de grandes bancos de dados indica que a neurociência já opera integrada a ferramentas computacionais. 

O uso de neuroimagem e de técnicas moleculares também segue em expansão. Em contraste, temas clássicos como “potencial de ação” perderam espaço, sinalizando a migração gradual para pesquisas mais interdisciplinares e aplicadas.

Consequências para a pesquisa e para a sociedade

A importância desses dados está no fato de que eles podem orientar jovens pesquisadores na escolha de temas promissores. E, com isso, também podem ajudar agências de fomento a priorizar áreas com maior potencial de impacto social. 

Como Alzheimer, neuroinflamação e IA dominam o cenário atual, é provável que investimentos cresçam nessas frentes, estimulando novas terapias, diagnósticos mais precoces e abordagens personalizadas.

Por outro lado, se poucos Centros de Pesquisa conseguirem acompanhar a infraestrutura tecnológica, pode haver uma disparidade maior entre laboratórios bem equipados e os menos favorecidos. 

E isso poderia reduzir o ritmo da democratização das descobertas científicas que vêm sendo difundidos por movimentos como a Pesquisa e Inovação Responsáveis (RRI ou PIR), o Acesso Aberto e o FAIR (sigla em inglês para “Encontrável, Acessível, Interoperável e Reutilizável”).

O que muda na compreensão da área

Já se sabia que a neurociência seguia uma abordagem eminentemente interdisciplinar. O estudo confirma essa percepção com dados robustos. Ao mostrar a expansão de ferramentas computacionais e a queda de temas clássicos, o estudo reforça que o foco atual está voltado para doenças, intervenções e problemas aplicados.

mapa interativo de tendências dos estudos do cérebro

Os caminhos mais prováveis incluem:

• redirecionamento de investimentos públicos para temas emergentes;
• novas oportunidades para laboratórios que estudam IA, neuroinflamação e doenças neurodegenerativas;
• expansão de empresas de neurotecnologia em nichos identificados no mapa;
• inclusão de disciplinas de ciência de dados e IA na formação de neurocientistas.

Conclusão

O mapa das grandes tendências na neurociência sintetiza meio século de produção científica e explica, de forma visual e precisa, como o campo mudou e para onde aponta.

Ao combinar semântica, IA e visualização de dados, o trabalho se torna uma ferramenta estratégica para entender o passado e antecipar o futuro da área.

Leia o original

State of Neuroscience 2025 – Métodos do mapa semântico.
The Transmitter. Novembro/25.

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Texto: Marcus Vinicius dos Santos – jornalista CTMM Medicina UFMG