Artigo da Science destaca pioneirismo latino-americanos e sua importância no movimento de acesso aberto mundial

Papel pioneiro dos periódicos latino-americanos de acesso aberto
Descentralizar as fontes do conhecimento amplia a diversidade de perspectivas na ciência. Publicações locais podem trazer mais informações sobre reais problemas de suas comunidades, inclusive de saúde, meio ambiente e políticas públicas. Imagem freepik

A jornalista brasileira Sofia Moutinho, especializada em ciência, publicou no site da revista Science um artigo que mostra o papel pioneiro e histórico dos periódicos latino-americanos no movimento de acesso aberto ao conhecimento científico (Breaking the Glass, 5/12/2024).

Por conseguinte, ela pondera. Se por um lado eles oferecem soluções inovadoras para a democratização do conhecimento científico, por outro lado enfrentam barreiras significativas, como a falta de reconhecimento global e limitações linguísticas.

Um dos pilares do conceito de Pesquisa e Inovação Responsáveis, o Open Access, ou, em português, acesso aberto, se refere à disponibilidade de uma publicação científica online sem nenhum custo.

A premissa por trás desse modelo é o de que o conhecimento científico seja um bem público que deve estar disponível a todos. Além disso, existem diferentes modelos ou vias de acesso aberto e algumas restrições muito limitadas no que se refere à reutilização. Neste link você pode ler o artigo do professor Marco Aurélio Romano-Silva, coordenador do NeuroTec-R, sobre o que é e qual a importância do acesso aberto para a ciência mundial.

Como essas publicações estão moldando o futuro da ciência?

América Latina lidera o acesso aberto

Desde a virada do século, os periódicos latino-americanos têm adotado amplamente o modelo de acesso aberto. Por aqui os periódicos têm priorizado o acesso universal. Isso permite que os artigos científicos sejam disponibilizados gratuitamente para leitura. Já no “Norte Global”, destaca a autora na Science, é comum revistas de prestígio cobrarem altíssimas taxas de assinatura ou publicação.

SciELO (Scientific Electronic Library Online) e Redalyc (Sistema de Informação Científica) são exemplos notáveis. Essas plataformas oferecem redes robustas que abrigam milhares de revistas de diversas disciplinas, facilitando a troca de conhecimento dentro da região e além.

E esse modelo não só amplia o acesso à informação, como também desafia a lógica comercial que domina o setor editorial acadêmico. Pesquisadores, principalmente aqueles de países de baixa e média renda, passam a ter a oportunidade de participar da ciência global sem barreiras financeiras.

Obstáculos à visibilidade internacional

Mas, nem tudo são flores. Apesar de seu pioneirismo e importância, os periódicos latino-americanos enfrentam dificuldades para alcançar uma audiência global.

Uma das principais barreiras é a predominância do espanhol e do português como idiomas de publicação. Embora acessíveis para leitores da América Latina, essas línguas limitam o alcance em outras regiões, onde o inglês predomina como idioma científico universal.

Além disso, a falta de indexação em grandes bases de dados internacionais, como Web of Science e Scopus, reduz a exposição desses periódicos. Esse problema dificulta a citação de artigos publicados, comprometendo seu impacto acadêmico e visibilidade global.

Outro desafio é a instabilidade no financiamento. Diferentemente de periódicos comerciais que dependem de taxas de publicação ou assinaturas, muitas revistas latino-americanas operam com subsídios governamentais ou apoio de instituições acadêmicas.

A dependência financeira, por vezes, compromete a sustentabilidade das publicações.

Soluções para maior alcance

Para superar esses desafios, os editores de periódicos latino-americanos têm explorado várias estratégias. Entre elas:

  • Publicação bilíngue ou multilíngue: Traduzir artigos para o inglês facilita a disseminação global e amplia o alcance de pesquisas locais.
  • Parcerias internacionais: Colaborações com periódicos de outras regiões podem ajudar a integrar essas revistas em redes científicas maiores.
  • Promoção digital: O uso de redes sociais e ferramentas digitais pode aumentar o engajamento com públicos diversos e atrair leitores de outras regiões.

Essas estratégias visam posicionar os periódicos como atores importantes em discussões científicas globais, destacando a relevância de suas pesquisas.

Equidade científica: um desafio global

O artigo de Sofia Moutinho destaca um ponto essencial: a centralização do conhecimento em países do Norte Global perpetua desigualdades na ciência. Pesquisadores de regiões como a América Latina frequentemente enfrentam preconceitos relacionados à origem de suas publicações.

A valorização de periódicos locais é crucial para ampliar a diversidade de perspectivas na ciência. Visto que essas revistas abordam temas relevantes para suas comunidades, incluindo desafios regionais de saúde, meio ambiente e políticas públicas.

A equidade científica depende de redes colaborativas que valorizem essas vozes. A inclusão de periódicos latino-americanos em debates globais não apenas promove justiça científica, mas também enriquece o campo com novas abordagens e soluções inovadoras.

O impacto do acesso aberto

O modelo de acesso aberto adotado por revistas latino-americanas oferece uma alternativa viável à lógica comercial dominante. Ele permite que pesquisas relevantes sejam lidas e utilizadas por comunidades que, de outra forma, seriam excluídas.

Além disso, essas revistas promovem práticas éticas e inclusivas, alinhando-se aos princípios de Pesquisa e Inovação Responsáveis (PIR). A saber, ao conectar ciência e sociedade, elas fortalecem o impacto social do conhecimento científico.

Papel pioneiro dos periódicos latino-americanos

Embora os desafios sejam significativos, o papel pioneiro dos periódicos latino-americanos no movimento de acesso aberto ao conhecimento científico continua a liderar pelo exemplo. Ou seja, seu compromisso com o acesso aberto e a democratização do conhecimento é uma contribuição valiosa para a ciência global.

Para ampliar sua relevância, é necessário investir em estratégias de internacionalização, promover traduções e buscar maior indexação em bases de dados globais. Assim, essas revistas podem consolidar seu papel como agentes de mudança em um sistema científico historicamente desigual.

A jornalista conclui seu texto com uma afirmação reveladora: “A valorização desses periódicos não é apenas uma questão regional, mas um passo essencial para construir uma ciência verdadeiramente global”. O NeuroTec-R acredita e trabalha nesse sentido.

Fonte

Título: Breaking the Glass: Latin American journals and global equity
Autora: Sofia Moutinho
Revista: Science
Edição e Ano: Global Equity in Science Series, 2024
DOI: 10.1126/science.zjn80sl

Texto: Marcus Vinicius dos Santos – jornalista CTMM Medicina UFMG


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