Canabidiol potencializa quimioterapia contra câncer de pulmão; revela estudo experimental

A combinação do canabidiol com etoposídeo induz a morte celular no 'câncer de pulmão não pequenas células', oferecendo uma estratégia promissora para superar a resistência aos tratamentos tradicionais - Banco de Fotos Gratuitas - Freepik.com

O canabidiol, ou CBD, uma substância derivada da planta Cannabis sativa, é capaz de reforçar a ação de um quimioterápico clássico, o etoposídeo, no tratamento do câncer de pulmão. Divulgado em maio de 2025, por pesquisadores da Coreia do Sul, o achado pode abrir caminhos para terapias mais eficazes e, talvez, até menos tóxicas.


Pesquisa sul coreana testou em modelos animais e células humanas, uma combinação de canabidiol, ou CBD, em conjunto com o etoposídeo, um medicamento já usado contra alguns tipos de câncer. O trabalho revelou sobretudo que, em modelo animal, essa combinação induziu a essas células tumorais e bloqueou genes que favorecem o crescimento do câncer de pulmão.

Esse tipo de tumor, chamado de câncer de pulmão de “não pequenas células” (sigla em inglês: NSCLC), é responsável por cerca de 85% dos casos da doença. Além disso, metade dos pacientes com a doença têm mais de 65 anos. Além disso, costuma resistir aos tratamentos tradicionais e mata mais do que qualquer outro câncer, principalmente no Ocidente.

O estudo foi conduzido por pesquisadores do Instituto Coreano de Ciência e Tecnologia, liderados por Young-Joo Kim, e publicado na revista Experimental & Molecular Medicine.

Como funciona essa combinação?

O CBD, ao ser associado ao etoposídeo, ativa um tipo de “suicídio celular” chamado de morte autófaga. Afinal, trata-se de um processo natural de autodestruição que impede a multiplicação descontrolada das células doentes.

Esse efeito ocorre porque o CBD desliga um caminho bioquímico essencial para o crescimento tumoral: chamada via PI3K-AKT-mTOR. Ao mesmo tempo, a combinação ativa o gene p53, conhecido como “guardião do genoma” porque induz a morte celular sempre que detecta danos no DNA.

Segundo os cientistas, esse efeito só acontece quando a proteína p53 está funcionando bem. Ou seja, essa combinação terapêutica pode ser especialmente promissora para pacientes que conservam essa função genética, comum em parte dos casos de NSCLC.

Além disso, a dupla CBD e etoposídeo conseguiu desligar vários genes que alimentam o crescimento do câncer, como KRAS, NRAS, EGFR e MYC. Esses genes são velhos conhecidos da oncologia e, muitas vezes, dificultam o sucesso dos tratamentos.

O que isso significa para o tratamento do câncer?

Primeiro, vale reforçar: os testes ainda são pré-clínicos, ou seja, realizados em laboratório e em modelos animais. Ainda não há aplicação em seres humanos. Mesmo assim, os resultados são animadores.

A principal vantagem observada é que as células pulmonares saudáveis não foram afetadas pela combinação. Isso indica um potencial para terapias menos tóxicas, um problema frequente na no tratamento tradicional. Por isso é importante saber que o canabidiol potencializa quimioterapia contra câncer de pulmão.

Outro ponto importante é o uso do etoposídeo. Um medicamento muito usado contra o câncer de pulmão de pequenas células, embora apresenta resultados limitados contra o NSCLC. A descoberta de que ele pode ser mais eficaz quando associado ao CBD representa uma nova aplicação para um medicamento já aprovado, o que pode reduzir custos e acelerar o desenvolvimento de tratamentos.

Por que o canabidiol se destacou?

O CBD já é conhecido por seu uso no tratamento de epilepsias infantis graves, como as síndromes de Dravet e Lennox-Gastaut. Nesses casos, ele ajuda a reduzir ou até eliminar as crises convulsivas. O medicamento Epidiolex, à base de CBD, foi o primeiro derivado de cannabis aprovado pela FDA, agência reguladora dos Estados Unidos.

No entanto, no campo do câncer, especialmente no NSCLC, o potencial do CBD como reforço para a quimioterapia ainda era pouco explorado. A pesquisa coreana revelou que, de fato, ele pode agir de maneira diferente do que se pensava, e sem depender dos receptores clássicos da cannabis (CB1 e CB2) nem dos canais TRPV, estruturas pelas quais o CBD normalmente exerce seus efeitos no organismo.

E agora? Próximos passos?

O time de cientistas sugere que o próximo passo seja a realização de ensaios clínicos — aqueles feitos com pacientes. Ou seja, eles são necessários para comprovar a segurança e a eficácia da combinação entre CBD e etoposídeo no câncer de pulmão.

Como o etoposídeo já é aprovado e o CBD também possui uso médico consolidado. Por isso, essa combinação poderia ser testada mais rapidamente do que um tratamento desenvolvido do zero. Canabidiol potencializa quimioterapia contra câncer de pulmão; revela estudo experimental.

Além disso, essa abordagem pode ser útil não apenas para o câncer de pulmão, mas também para outros tipos de tumor em que a proteína p53 está ativa. Para isso, será necessário identificar biomarcadores — sinais biológicos que ajudam a prever quem pode se beneficiar mais dessa terapia.

Qual o impacto dessa descoberta?

O estudo representa uma possibilidade real de transformar a maneira como tratamos o câncer de pulmão resistente. Ele reforça a importância das terapias combinadas, que usam mais de um agente para atacar o tumor por diferentes frentes.

Além disso: mostra como substâncias já conhecidas, como o CBD, podem ser redescobertas com novas finalidades, acelerando inovações em saúde. O canabidiol decerto potencializa quimioterapia contra câncer de pulmão; revela estudo experimental.

Qual a relação com o NeuroTec-R?

O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neurotecnologia Responsável (NeuroTec-R) apoia pesquisas como essa, que associam inovação a responsabilidade social. O estudo coreano ilustra bem como o conhecimento científico pode transformar tratamentos tradicionais e beneficiar a sociedade. NeuroTec-R defende que descobertas como essa devem ser acompanhadas de diálogo não só entre cientistas, como também com o poder público e toda a sociedade. Sobretudo para garantir que os avanços cheguem de forma segura e ética.

[Leia o artigo original]

Cannabidiol potentiates p53-driven autophagic cell death in non-small cell lung cancer following DNA damage: a novel synergistic approach beyond canonical pathways
Youngsic Jeon, Taejung Kim, Hyukjoon Kwon, Young Nyun Park, Tae-Hyung Kwon, Min Hong, Kyung-Chul Choi, Jungyeob Ham e Young-Joo Kim
Experimental & Molecular Medicine. Article Open. Publicado em maio de 2025
DOI: https://doi.org/10.1038/s12276-025-01444-x

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Texto: Marcus Vinicius dos Santos – jornalista CTMM Medicina UFMG