O reconhecimento de que aspectos como diversidade, equidade e inclusão na pesquisa podem reduzir desigualdades em saúde é globalmente considerado primordial para o desenvolvimento da ciência. A pandemia de covid-19 evidenciou ainda mais essa realidade. Diversas iniciativas buscam novas formas de enfrentar desafios estruturais e promover mudanças concretas. Neurotec-R compartilha dessa visão e adota o conceito de Pesquisa e Inovação Responsáveis. É hora de debatermos o assunto.
Promover uma cultura organizacional inclusiva é crucial para uma produção científica mais resolutiva e socialmente orientada. “Diversidade, equidade e inclusão é um mecanismo crucial para melhorar a excelência, a criatividade e a inovação na ciência clínica e translacional”, afirma o editor da Nature Medicine (junho de 2022), em artigo assinado por Vitale e colaboradores.
“No entanto, o avanço desse mecanismo no meio científico tem sido lento nas últimas décadas”, afirmou o especialista.
E a importante revista científica internacional tem dado exemplo, publicando artigos sobre o tema ao longo dos anos. Ainda em novembro de 2021 a publicação trouxe editorial anunciando série de artigos especiais sobre estratégias de ampliação da representatividade. E em todas as fases do processo científico.
Reunimos aqui aspectos tratados neste e em outros dois artigos da mesma publicação. Inegavelmente eles complementam ideias relevantes. Para sua melhor informação, ao final você vai encontrar um link para cada um dos artigos originais consultados. Estamos ansiosos pela sua opinião. Em resumo, conte pra nós! O que você acha disso?
Financiamento é essencial
O tema financiamento é considerado um dos principais desafios enfrentados por cientistas. No editorial de 2021, o editor destaca dificuldade enfrentada por pesquisadores iniciantes, especialmente negros, latinos e indígenas, os quais têm mais dificuldade de conseguir financiamento.
Nos Estados Unidos, então, iniciativas dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), foram voltadas para fomentar a presença de grupos sub-representados na ciência. Seja como for, o artigo recomenda mudanças nos critérios de financiamento, aliadas a políticas de recrutamento mais inclusivas e maior transparência nos dados demográficos de pesquisadores e revisores, como formas de promover a diversidade.
Socialmente relevante
Incluir não cientistas na pesquisa é essencial para tornar a ciência mais acessível e relevante. A literatura corrobora a ideia de que o compromisso de longo prazo com a equidade e a transparência são fundamentais para uma ciência verdadeiramente representativa. E socialmente relevante.
Apesar das vantagens, é crucial garantir que todos os participantes tenham acesso às tecnologias necessárias e que questões de privacidade sejam rigorosamente abordadas.
Compreender diferentes realidades permite reduzir desigualdades e distância entre ciência e o que é de fato relevante para a sociedade.
Programas de treinamento, políticas públicas que promovam a igualdade de oportunidades e espaços de escuta ativa podem contribuir para um ambiente mais diversificado e acolhedor.
Além disso, colaborações com comunidades locais e programas de ciência cidadã são algumas formas que podem engajar uma maior diversidade de pessoas e garantir que diferentes perspectivas daquela sociedade sejam consideradas.
Diversidade na liderança científica
Não só na coleta de dados, mas desde a governança e concepção do escopo de uma pesquisa científica é importante envolver pessoas de diferentes origens étnicas, sociais, financeiras, educacionais, de gênero, e outras.
Essa diversidade precisa estar também em posições estratégicas que possam fortalecer essa cultura científica mais inclusiva.
O artigo de Folakemi T. Odedina and Mariana C. Stern, de acordo com o editorial da Nature Medicine, esclarece que a National Academy of Sciences, dos EUA, vem adotando medidas para promover a diversificação em sua liderança. De fato, eles também sugerem programas de capacitação e ações afirmativas como sendo algumas das estratégias possíveis para ampliar a representatividade em cargos de decisão.
Ensaios clínicos descentralizados
Outro artigo da Nature Medicine, de 2024, tratou sobre avanços no campo dos ensaios clínicos. Nessa abordagem são usadas tecnologias digitais para monitorar participantes remotamente, como dispositivos vestíveis e aplicativos móveis. Segundo os autores, eles também promovem a inclusão social.
Tradicionalmente, a fim de participar em ensaios clínicos os participantes precisam se deslocar até algum centro de pesquisa. Ao eliminar a necessidade de deslocamento, esses ensaios permitem criar oportunidades para alcançar pessoas de diversas origens, incluindo aquelas em áreas rurais ou com mobilidade limitada.
Isso não só amplia o acesso – promovendo maior diversidade de participantes -, como também reduz barreiras geográficas e logísticas, viabilizando também a participação de populações historicamente excluídas como indígenas de localidades afastadas, idosos, pessoas com deficiências e acamados. Além disso tudo, são colhidas amostras ainda mais representativas e dados mais abrangentes.
O planejamento desse tipo de abordagem precisa ser ainda mais cuidadoso, para assegurar que nenhuma possibilidade de inclusão seja deixada de lado.
O futuro da pesquisa médica
Certamente, a adoção crescente de ensaios clínicos descentralizados sinaliza um futuro mais inclusivo na pesquisa médica. A transição para ensaios clínicos descentralizados representa um avanço significativo na promoção da equidade e inclusão na pesquisa médica. Sem dúvida, essas práticas contribuem sobremaneira para a construção de um futuro mais justo e representativo na medicina.
Ações de diversidade e inclusão
Já que o estudo publicado na Nature Medicine, em junho de 2022, analisou as iniciativas de diversidade, equidade e inclusão implementadas pelos programas premiados pelo Centro Nacional para o Avanço das Ciências Translacionais (NCATS) nos Estados Unidos.
A pesquisa demonstrou a importância dessas iniciativas para aprimorar a excelência e a inovação na ciência clínica e translacional. Sobretudo, e especialmente, na abordagem das desigualdades em saúde. Ou seja, a análise revelou que a pandemia de covid-19 evidenciou deficiências nos sistemas de saúde e de pesquisa. Em síntese, ela destaca a necessidade de enfrentar o racismo estrutural e outros vieses que contribuem para a falta de diversidade na ciência.
Ademais, para garantir uma inclusão efetiva, é necessário um esforço conjunto entre pesquisadores, instituições de saúde e comunidades. A transparência na comunicação, a adaptação de estratégias conforme as necessidades locais e a avaliação contínua dos processos são cruciais para construir uma ciência verdadeiramente representativa e acessível a todos.
O estudo propõe, sobretudo, que se identifiquem líderes diversos, treinar pesquisadores representativos e desenvolver projetos de pesquisa centrados no ser humano para promover mudanças sustentáveis (Veja Pesquisa e Inovação Responsáveis)
Publicações científicas e seu papel na inclusão
A saber, inclusão pode ser ampliada por meio de indicações de especialistas de diferentes origens. Além disso, incentivos para submissões de pesquisadores de regiões menos representadas e ações afirmativas para garantir uma ciência mais plural.
Acima de tudo, a Nature Medicine declara que vem adotando novas práticas para garantir uma maior diversidade entre autores e revisores.
Inesperadamente, a administração central da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) publicou, para consulta da imprensa e de outros cientistas, um Catálogo de Pesquisadores Negros. O banco de dados é composto por professores, técnicos e alunos.
A saber mais sobre como esses ensaios estão moldando o futuro da medicina, leia os artigos completos na Nature Medicine. Veja abaixo.
Referências
- Recommendations to promote equity, diversity and inclusion in decentralized clinical trials. Aiyegbusi, O. L., et al. (2024). Nature Medicine, 30, 3075-3084. Disponível em: https://doi.org/10.1038/s41591-024-03323-w.
- Diversity, equity and inclusion actions from the NCATS Clinical and Translational Science awarded programs. Boulware LE et al. Nature Medicine. 2022;28:1730. Disponível em: 10.1038/s41591-022-01863-7.
- Diversity, equity and inclusion: we are in it for the long run. Editorial. Nature Medicine. 2021;27(11):1851. DOI: 10.1038/s41591-021-01582-5.
Texto: Marcus Vinicius dos Santos – jornalista CTMM Medicina / UFMG
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