A participação ativa do público em pesquisas científicas pode transformar a ciência. Uma abordagem aberta, transparente e participativa é fundamental para promover o aperfeiçoamento de práticas cada vez mais éticas. Neuroética e participação social são uma ponte na busca por resultados sustentáveis em neurociência. E de tal forma pode tornar possível alcançar resultados sustentáveis, mais legítimos e relevantes.
Explorando essa abordagem, o artigo “Neuroscience is ready for neuroethics engagement” (em tradução livre, “A neurociência está pronta para o engajamento da neuroética”) mostra por que esse envolvimento é necessário.
Ele foi publicado na seção de opinião (Perspectivas), da revista Frontiers in Communications, do grupo Elsevier, por um grupo de cientistas sediados na Argentina, Austrália, Estados Unidos e Suécia. Além disso, todos são delegados da Cúpula Global de Neuroética.
Neuroética e participação social como ponte
A neuroética tem a função de examinar as implicações sociais, legais e filosóficas da neurociência. Sobretudo, a proposta dos autores destaca a sinergia entre a neuroética e o engajamento público. Assim, surge uma rede de colaboração para debates, decisões e inovações, onde ciência e sociedade dialogam de maneira mútua e enriquecedora.
Ou seja, neuroética e participação social são uma ponte na busca por resultados sustentáveis em neurociência. Por sua vez, ela promove a compreensão sobre como o conhecimento neurocientífico impacta a sociedade e suas normas. Ao promover o engajamento público, juntos, tornam-se peças-chave para o futuro da neurociência e da neurotecnologia.
Cada pessoa traz uma bagagem de experiências, crenças e valores que formam sua compreensão e interpretação da realidade. Isso faz do diálogo um elemento essencial. Transmitir conhecimento apenas não basta — é necessário conversar, ouvir e entender.
Ciência participativa é mais ética
O envolvimento do público permite que as discussões não se limitem aos especialistas. Consequentemente, esses membros da comunidade se transformam em parte ativa do processo científico. Dessa maneira é que se viabiliza a incorporação de novas visões e valores, das diversas pessoas afetadas ou interessadas em temas neurocientíficos.
A premissa básica nesse caso, portanto, é a de que uma ciência mais inclusiva e participativa promoveria resultados sustentáveis, mais éticos e socialmente relevantes. Nessa abordagem bidirecional, vozes de diferentes públicos – como pacientes, especialistas e cidadãos – participam das discussões e das decisões de forma ativa.
E isso não se restringe a uma possível população estudada, mas também a outros populares, empresários com atividades relacionadas, agentes públicos e legisladores, organizações da sociedade organizada.
Em suma, a pesquisa inclusiva é consequentemente mais ética, na medida em que permite que os pesquisadores compreendam melhor a cultura dos públicos envolvidos. Isso gera confiança mútua e traz impactos positivos para a sociedade.
Resultados sustentáveis na neurociência
Temas complexos como identidade, consciência e tomada de decisão precisam ser explorados com responsabilidade. Ao desafiar percepções culturais e incluir o público no processo, a neurociência, por sua vez, pode avançar de forma inclusiva e responsável.
O conceito da PIR, criado na União Europeia (a sigla em inglês é RRI), envolve seis grandes agendas públicas como princípios metodológicos. Engajamento Público é um deles. Ética, Igualdade de Gênero, Educação em Ciência, Acesso Aberto e Governança completam a lista de princípios e o desafio.
A Evolução do engajamento científico
Adaptamos e traduzimos a ilustração abaixo, conforme a figura 1 do artigo, para mostrar a diversidade de formas de engajamento público na ciência, desde a exploração individual de informações até colaborações intensas entre público e especialistas.
Com essa abordagem, a neuroética se torna uma ponte entre ciência e sociedade, promovendo diálogos que beneficiam a todos e moldam o futuro da pesquisa neurocientífica.
Reflexão e desafios para o engajamento neuroético
Para que o engajamento neuroético seja efetivo, é essencial que neurocientistas e especialistas em neuroética adotem práticas de aprendizado mútuo e reflexão.
Comportamentos tais como humildade, abertura e criatividade entre os envolvidos é crucial para a construção de uma relação robusta e diversificada.
Por outro lado, esse modelo de engajamento, segundo os autores, ajuda a enfrentar desafios éticos e promove decisões mais colaborativas e informadas.
E as práticas de divulgação científica também ganham com essa abordagem. O modelo transmissivo, pelo qual o cientista ensina o que o cidadão “deve saber” (a partir do ponto de vista do cientista), já não é mais suficiente.
E, talvez, nunca foi “suficiente”, embora parecesse funcionar. Mas a tecnologia promoveu mudanças na comunicação, que por sua vez fizeram avanços também na sociedade, na ciência e na forma como ela se relaciona com o mundo.
Além disso, a política de divulgação científica e de comunicação das organizações responsáveis, de uma maneira geral, precisam estar inseridas em todas as etapas do processo de pesquisa, na prática diária da Instituição ou projeto.
Resumindo …
A integração da neuroética com o engajamento público fortalece a neurociência ao garantir que os avanços estejam em sintonia com valores sociais.
A parceria entre esses campos permite que a ciência seja mais inclusiva e respeitosa, antecipando e abordando conflitos éticos de maneira responsável.
Com isso, o engajamento que a neuroética (como uma ponte) oferece leva a uma nova perspectiva para o futuro da neurociência, onde todos podem contribuir para a construção de um conhecimento mais significativo e socialmente consciente.
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Informações sobre o Artigo | |
Título | Neuroscience is ready for neuroethics engagement |
Autores | Das J, Forlini C, Porcello DM, Rommelfanger KS, Salles A e Global Neuroethics Summit Delegates |
DOI | 10.3389/fcomm.2022.909964 |
Publicação | 21 de dezembro de 2022 |
Ano / Vol. | 2022 / 7 |
Categoria | Perspectiva |
Área | Comunicação Científica e Ambiental |