Os efeitos do Natal para lá das luzes e seus impactos no comportamento (e na saúde mental)

Os efeitos do Natal para lá das luzes
Apesar de pouco se falar a respeito, o período de festas de mim de ano mexe com o comportamento psicopatológicos e com os padrões de utilização de serviços psiquiátricos - Banco de Imagens Vecteezy

Natal é socialmente reconhecido como época de magia, união e renovação. Mas, nem todo mundo tem a mesma sensação e por trás do brilho das luzes e das festas, existe um lado psicológico que merece atenção, de toda a sociedade. São os efeitos do Natal para lá das luzes e seus impactos no comportamento e na saúde mental.

“The Christmas Effect on Psychopathology” é o título do artigo do casal de cientistas Randy Sansone e Lori Sansone, do Colégio de Medicina da Universidade de Oklahoma. Com base em análise de estudos empíricos, eles investigaram como essa data influencia diversos comportamentos psicopatológicos e padrões de utilização de serviços psiquiátricos, utilizando dados de múltiplas bases de pesquisa.

Contrastes do Natal

Segundo eles, as festas de fim de ano parecem funcionar como um respiro emocional para muitos, mas também evidenciam desigualdades emocionais. Enquanto exista quem encontre conforto, outros enfrentam fortes gatilhos. Bom, então, o Natal pode desencadear comportamentos opostos na saúde mental!

É. Se por um lado oferece proteção contra algumas psicopatologias, por outro lado agrava determinadas outras. Contudo, essa proteção não se estende para todos.

A importância de saber isso é predispor toda a sociedade a prestar mais atenção às pessoas à nossa volta.

Pode haver efeito protetor, mas não é universal

Surpreendentemente, as festas natalinas têm um efeito protetor para muitos transtornos mentais, como a redução de comportamentos autolesivos e tentativas de suicídio. Pacientes mais jovens apresentam uma redução de até 60% nesses atos. Esse efeito “protetor”, que não é universal, dura pouco. Ele desaparece rapidamente, logo na chegada do Ano Novo.

Por outro lado, há um aumento de certos tipos de psicopatologias, como dos quadros de humor, além de fatalidades relacionadas ao álcool.

Esses achados são corroborados por uma revisão da literatura, feita por Robert Friedberg (também parceiro científico de sua esposa!). Neste estudo, Friedberg mostra que não há aumento geral da psicopatologia durante o Natal. Ao invés disso, houve uma elevação nos quadros de distúrbios de humor.

Depressão e o “Mito da Felicidade”

Embora poucas pesquisas tenham explorado diretamente a relação entre depressão e Natal, estudos apontam que temas como solidão, ansiedade e uma crença equivocada de que “todos estão felizes” intensificam os sintomas depressivos.

Entre as principais causas de estresse, destacam-se a falta de família ou o isolamento social, nesse período.

O consumo de álcool e drogas dispara. Festas se tornam palco para o uso excessivo de álcool e, em alguns casos, de cocaína. O artigo cita como exemplo países como Finlândia e Dinamarca, onde as mortes por envenenamento alcoólico atingem seus picos na época natalina.

Suicídios: proteção temporária

Estudos mostram que durante o Natal os atendimentos de emergência psiquiátrica caem. As internações também diminuem, mas por outro lado os casos registrados são mais graves, envolvendo abuso de álcool e comportamentos agressivos. Após as festividades, os números voltam a subir.

O Natal registra uma queda significativa nas tentativas e suicídios completos. Contudo, no Ano Novo, ocorre um aumento preocupante desses casos, mostrando que o efeito protetor da época natalina é temporário.

Problema de saúde pública

Para profissionais de saúde mental, o Natal demanda atenção redobrada: menos ocorrências durante as festas, mas um aumento significativo no período pós-Natal.

Profissionais da saúde mental, tanto em psiquiatria quanto em cuidados primários, devem estar preparados para um cenário atípico. Antes do Natal, é provável que haja uma diminuição geral de fenômenos relacionados à psicopatologia, mas logo após as festividades, espera-se um aumento dessas ocorrências, como revela a pesquisa.

Esse fenômeno sugere que, para muitos, as festas de fim de ano podem agir como um fator de alívio temporário para alguns tipos de transtornos psicológicos, embora isso não implique uma resolução permanente de questões mais profundas.

Por fim, com a conclusão das festividades, as pessoas podem se ver novamente diante das dificuldades que se intensificam após o período de celebração. Assim, a temporada de Natal apresenta um equilíbrio entre proteção momentânea e o retorno das tensões psicológicas no início do ano.

Essa oscilação reforça a importância de cuidados contínuos com a saúde mental, especialmente durante e após os períodos de feriados, quando os padrões de comportamento podem ser temporariamente alterados.

Em resumo …

Natal oferece efeito protetor contra diversos tipos de psicopatologias, especialmente comportamentos autolesivos e suicídios. No entanto, há um aumento nos casos relacionados ao consumo de álcool e uma piora do humor em algumas pessoas. Os dados indicam um padrão de “rebote” pós-Natal, o que destaca a necessidade de atenção redobrada por parte de profissionais de saúde logo após as festas. São os efeitos do Natal para lá das luzes e seus impactos no comportamento e na saúde mental.

O NeuroTec-R é um laboratório de pesquisas que se dedica aos estudos do cérebro e do desenvolvimento responsável.

Leia o artigo original

“The Christmas Effect on Psychopathology”
Randy A. Sansone e Lori A. Sansone
Innovations in Clinical Neuroscience, 2011;8(12):10–13
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