Plataforma de ‘artigo preliminar’ adota modelo sem fins lucrativos por mais segurança científica

Preprint abandona lucro por mais segurança
O receio de ter artigos rejeitados por revistas científicas ainda é um grande obstáculo para pesquisadores das ciências da vida publicarem preprints, apesar dos avanços da ciência aberta - Banco de fotos Vecteezy

Estudos e dados científicos agora podem ser compartilhados com menos burocracia e sem barreiras financeiras. Duas das maiores plataformas de preprints se uniram para criar uma nova organização independente e sem fins lucrativos: a OpenRxiv. Segundo a Science, trata-se de uma aposta em mais autonomia como forma de garantir maior sucesso na pesquisa


Quem precisa ter esperanças no avanço da ciência sabe que o tempo parece passar mais rápido para quem tem uma emergência de saúde em casa. Embora nem sempre o resultado seja positivo, a esperança e o avanço social promovidos pela ciência são do interesse não só dos pacientes, como das famílias, instituições, poder público e empresas, interessados em novas e cada vez mais complexas soluções

O editor associado da Science, Jeffrey Brainard, noticiou em 11 de março que as plataformas biomédicas bioRxiv e medRxiv agora fazem parte da OpenRxiv. Segundo o autor, que é biólogo e filósofo, a mudança vai além da estrutura organizacional. Inegavelmente, o objetivo final é fortalecer a segurança e a independência das pesquisas.

O impacto da OpenRxiv

Ouvido no texto da Science, o cofundador da bioRxiv e da medRxiv, Richard Sever, reforça a importância desse movimento: “Preprints provaram ser indispensáveis para acelerar a descoberta, especialmente em contextos urgentes de saúde pública. Com a openRxiv, garantimos que esses servidores continuem sendo liderados por pesquisadores e acessíveis à comunidade global”, afirma.

Para John Inglis, outro cofundador das plataformas, essa independência vai permitir expandir horizontes, melhorar tecnologias e ampliar a base de usuários. A ideia por traz envolve, com toda certeza, que para alcançar resultados ainda mais significativos é necessário incluir mais cientistas, de diversas regiões do mundo e em diferentes etapas de sua trajetória profissional.

A ciência precisa ser ágil, inclusiva e acessível. E não pode (ou não deveria) ser dependente do humor ou de interesses políticos, comerciais, financeiros, ou de quaisquer outros que não o bem coletivo.

A desativação de dados abertos, por exemplo, “poderia causar uma “catástrofe” científica em estudos de grande relevância social”, afirma Dan Goodman.

Desafios e resistência ao novo modelo

Ainda que haja muitos avanços, ainda há desafios. Em outras palavras, diferentemente dos físicos, que já adotaram o modelo de preprint em massa com o arXiv, os pesquisadores da área biomédica ainda são mais cautelosos. Muitos hesitam em publicar seus estudos como preprints, temendo que revistas científicas recusem publicar seus estudos uma vez que o trabalho já foi divulgado. 

No entanto, essa resistência vem diminuindo. Atualmente, 281 periódicos aceitam artigos diretamente do bioRxiv e 168 do medRxiv, facilitando a submissão formal após a publicação inicial como preprint. Além disso, há um esforço crescente para incluir revisões independentes nos preprints, aumentando sua credibilidade.

Mesmo assim, apenas 15% dos autores de artigos acadêmicos começam sua jornada científica em plataformas desse tipo. Apesar de tudo, os especialistas acreditam que o momento para apostar nesse modelo nunca foi tão promissor.

Se o openRxiv conseguir se firmar e atrair mais pesquisadores do mundo todo, como planejam seus gestores, podemos estar prestes a testemunhar uma revolução na forma como a ciência é compartilhada. Por isso a ideia de que uma plataforma de ‘artigo preliminar’ adota modelo sem fins lucrativos por mais segurança científica.

E assim, isso pode fazer toda a diferença quando o tempo é um valor essencial para salvar entes queridos, ou a nós mesmos. Reacendendo também o debate sobre o futuro da comunicação científica, Brainard reforça a necessidade da transparência e de mais independência na pesquisa.

Expansão e desafios

Historicamente, a publicação científica tem sido dominada por instituições dos Estados Unidos e Europa. O novo modelo quer incluir mais pesquisadores de países do Sul Global, já que as barreiras para publicação ainda são um obstáculo significativo.

Para contribuir nesse processo de esclarecimento e engajar novos cientistas e instituições de pesquisa, eventos e reuniões estão sendo previstos, tanto presencial quanto virtualmente.

Se você pensou “mas como tudo isso vai ser financiado?”, não está sozinho. Além da inclusão, a transição para uma organização independente traz desafios financeiros. Antes, bioRxiv e medRxiv contavam com o apoio do Cold Spring Harbor Laboratory (CSHL).

Será preciso encontrar novos financiadores. Como a Chan Zuckerberg Initiative (CZI), que já confirmou seu apoio. Além disso, os gestores da openRxiv esperam arrecadar mais fundos junto a universidades e outras instituições.

O futuro da ciência aberta

No Brasil, essa iniciativa dialoga diretamente com o trabalho do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neurotecnologia Responsável (NeuroTec-R). Em “Acesso aberto é pilar da pesquisa responsável”, o professor Marco Aurelio Romano-Silva, coordenador do INCT NeuroTec-R, discute como esse modelo pode beneficiar pesquisadores e a sociedade em geral.

No campo da neurociência, em especial, iniciativas como o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neurotecnologia Responsável (NeuroTec-R) defendem que o avanço da pesquisa deve ser feito de forma ética e sustentável, com envolvimento da sociedade e do setor público. 

Aqui nesta notícia: “Plataforma de ‘artigo preliminar’ adota modelo sem fins lucrativos”, a pergunta que fica é se os pesquisadores vão abraçar essa mudança ou se continuarão presos ao modelo tradicional. Se depender da necessidade de agilidade e transparência, o futuro da ciência pode estar mais aberto do que nunca.

Leia o artigo original        

In bid to expand, bioRxiv and medRxiv preprint servers move to newly formed nonprofit – Backers seek to increase contributions from authors at institutions beyond the global elite.
Jeffrey Brainard. News. Science Insider. Science Magazine. Março de 2025

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Seja você alguém interessado em ciência ou um cientista, essa mudança pode transformar a forma como o conhecimento é compartilhado. Compartilhe essa notícia e participe do debate!

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Redação: Marcus Vinicius Dos-Santos – Jornalista do Núcleo de Divulgação Científica do CTMM da Faculdade de Medicina da UFMG