Proteínas no sangue revelam elo entre solidão, isolamento social e doenças fatais, como AVC e infarto

Proteínas no sangue revelam elo
Este é o primeiro mapeamento de larga escala a buscar associação entre aspectos biológicos identificados em proteínas plasmáticas e saúde física em humanos - Banco de fotos Vecteezy

Segundo estudo liderado pelo pesquisador Chun Shen, da Fudan University, da China, existem proteínas no sangue que revelam elo entre solidão e isolamento social, que não seriam apenas questões emocionais, mas têm relação direta com doenças fatais. Essas condições estariam ligadas a um aumento significativo no risco de doenças graves como AVC, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. 


Publicado na Nature Human Behaviour, “Plasma proteomic signatures of social isolation and loneliness associated with morbidity and mortality” mapeou associações biológicas entre relações sociais e a saúde física, oferecendo novos caminhos para intervenções médicas e políticas públicas. 

A equipe de cientistas analisou dados de mais de 42 mil participantes do UK Biobank, utilizando 2.920 proteínas plasmáticas para identificar marcadores associados à solidão e ao isolamento social. Dos participantes, 9,3% eram socialmente isolados, e 6,4% relataram sentir-se solitários.

Entre as proteínas analisadas, 179 demonstraram correlação significativa: 153 relacionadas ao isolamento social, 22 compartilhadas com solidão e 4 específicas da solidão. Este foi o primeiro estudo a mapear a relação entre solidão, isolamento social e proteínas plasmáticas em humanos em larga escala. 

O papel das proteínas nos mecanismos de formação das doenças

Uma análise mais aprofundada revelou que quase metade das proteínas associadas ao isolamento e solidão também estão ligadas a processos inflamatórios. Além disso, o estudo associou as proteínas à resposta antiviral e ao sistema complemento, fundamentais para a imunidade.

Foi observado sobreposição de proteínas entre isolamento e solidão, uma vez que indicava mecanismos biológicos compartilhados. O estudo também conectou alterações proteicas a mudanças em áreas cerebrais como a ínsula e o córtex frontal, responsáveis por emoções e interações sociais. Em outras palavras isso sugere que a solidão pode alterar os mecanismos cerebrais que controlam respostas ao estresse e ao ambiente social.

Durante o período de 14 anos de acompanhamento, 4.255 participantes morreram e mais de 8 mil desenvolveram doenças graves. Dessa forma, esses dados reforçam a importância de intervenções que melhorem as relações sociais para prevenir condições fatais.

Principais proteínas analisadas

  • GDF15: Associada ao isolamento social, esta proteína mostrou um aumento de 22% no risco de doenças cardiovasculares e mortalidade geral.
  • ADM: A única proteína ligada à solidão e a múltiplas condições, incluindo AVC e demência, com 16% de mediação no risco de mortalidade relacionado à solidão.
  • PCSK9: Reguladora do metabolismo do colesterol, em outras palavras teve forte associação com solidão, reforçando seu papel em doenças cardiovasculares.

Como a pesquisa foi conduzida

A pesquisa combinou análise proteômica em larga escala com dados genéticos. Para tanto, logo após, os cientistas usaram amostras de plasma sanguíneo, coletadas pelo UK Biobank, para medir os níveis de proteínas e realizaram estudos de associação em larga escala (PWAS). 

Para entender se as proteínas estavam diretamente relacionadas à solidão ou ao isolamento, a equipe utilizou análises de randomização mendeliana (MR) e de localização genética. Da mesma forma para avaliar como essas proteínas influenciam o risco de doenças, a equipe usou modelos de Cox, uma ferramenta estatística que mede associações entre variáveis ao longo do tempo. 

A conexão entre solidão, proteínas e condições como AVC, diabetes e mortalidade foi analisada em detalhes. De maneira idêntica, a ADM foi destacada como mediadora central em múltiplos desfechos de saúde.

Resumo dos métodos

  • Critérios dos participantes: Adultos com idade média de 56 anos, 52,3% mulheres, representando múltiplas etnias e níveis de renda.
  • Análises detalhadas: As associações foram ajustadas não só para fatores como idade, sexo e etnia, como também para nível de escolaridade e estilo de vida (tabagismo, consumo de álcool e IMC).
  • Amostragem robusta: O estudo replicou as análises em subgrupos, incluindo apenas caucasianos, a saber pessoas brancas de origem europeia. Principalmente para garantir consistência nos resultados, segundo os pesquisadores.


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Por que essa descoberta importa?

O estudo chinês oferece insights sobre como as relações sociais afetam a saúde por meio de processos biológicos, como inflamação e respostas ao estresse, por exemplo. Por fim, a descoberta de proteínas específicas, como a ADM, pode levar ao desenvolvimento de terapias que combatam os impactos negativos da solidão na saúde pública.

Sobre o NeuroTec-R e o PIR

O Instituto Nacional de Neurotecnologia Responsável (NeuroTec-R) é uma rede de laboratórios internacionais de pesquisa dirigida aos estudos do cérebro e do desenvolvimento responsável. Sediado no Centro de Tecnologia em Medicina Molecular (CTMM) da Faculdade de Medicina da UFMG, NeuroTec-R, nesse sentido, visa promover pesquisas que conectam neurociências a questões sociais e éticas. 

Ele integra o Programa Institutos Nacionais de Pesquisa (INCT’s), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), visto que é dirigido a fomentar projetos científicos com impacto direto na sociedade.

Leia o artigo original

“Plasma proteomic signatures of social isolation and loneliness associated with morbidity and mortality”. Chun Shen et al. Nature Human Behaviour. Open access. Publicado em 3 de janeiro de 2025.
DOI: https://doi.org/10.1038/s41562-024-02078-1

Texto: Marcus Vinicius dos Santos – jornalista CTMM Medicina UFMG (equipe)


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