Por que há tratamentos que funcionam em animais e falham em humanos?

Uso de tecnologia touchscreen pode levar à criação de uma plataforma de testes cognitivos automatizados, aplicáveis tanto em humanos quanto em animais - Crédito: Imagem Freepik

CNPQ acaba de liberar financiamento de quase R$ 2 milhões para projeto sediado na Faculdade de Medicina da UFMG que vai tentar responder por que há tantos tratamentos que funcionam em animais e falham em humanos. Objetivo final é acelerar diagnósticos e tratamentos de transtornos mentais e de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e autismo. 

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) aprovou financiamento de R$ 1.957.200 para uma pesquisa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neurotecnologia Responsável (NeuroTec-R). Escolhida no processo da chamada nº 32/2024, em resumo ela é voltada para estudos estratégicos no Sistema Único de Saúde (SUS). 

“Nossa proposta é criar uma nova abordagem, que possa otimizar testes, reduzir custos e acelerar o diagnóstico e o acesso a tratamentos eficazes, de transtornos como TDAH e autismo, e de doenças como Alzheimer e Parkinson”, esclarece o professor Marco Aurélio Romano-Silva, coordenador do projeto aprovado. 

– Ouça o áudio ao lado ou, a versão completa (12 min.), disponível apenas no celular: Clique aqui: Revolução na Pesquisa de Doenças do Cérebro – GenFM with Will and Brittney, em ElevenLabs.io (e, depois: “Open in ElevenReader”).

Com uso de tecnologia touchscreen, a proposta envolve criar uma plataforma de testes cognitivos automatizados, aplicáveis tanto em humanos quanto em animais. “Esses testes medem funções como memória, atenção e aprendizado, e são altamente reprodutíveis”, explica o professor Marco Aurélio Romano-Silva, coordenador NeuroTec-R e do projeto.

Essa abordagem, chamada de co-clínica, já é usada em estudos sobre câncer. Ela permite estudar uma doença simultaneamente em modelos animais e humanos, economizando tempo, dinheiro e sofrimento. Em suma, os testes que serão propostos pela pesquisa vão avaliar funções como memória e atenção, com foco em resultados comparáveis entre as espécies. Além disso, o projeto buscará identificar biomarcadores – substâncias que indicam a presença ou estágio de uma doença.

Ciência aberta e colaboração global

Outra parte importante da pesquisa será a criação de um banco de dados global, onde pesquisadores poderão compartilhar informações e colaborar. Uma vez que é conhecido como Ciência Aberta, esse movimento colaborativo propõe mudar a forma como o conhecimento científico é produzido, compartilhado e reutilizado, incentivando também a transparência.

Dentre as práticas éticas adotadas, a pesquisa também adota compromisso com a redução do uso de animais em experimentos. Com a combinação de todos esses aspectos, espera-se alcançar diagnósticos mais rápidos e mais precisos, ajustar terapias para torná-las mais eficazes, assim como acelerar o início dos tratamentos para transtornos mentais e para doenças neurodegenerativas. Tudo isso com menor custo e maior acesso da sociedade.

O que é a abordagem co-clínica?

A abordagem co-clínica usa métodos comparáveis que permitem estudar doenças tanto em modelos animais quanto em humanos, ao mesmo tempo. Isso cria uma “ponte” entre a ciência básica e a prática clínica. Com a co-clínica, é possível testar e ajustar tratamentos de forma mais ágil, sem precisar de grandes ensaios clínicos.

Segundo Marco Romano-Silva, “essa sincronia facilita a tradução dos resultados dos estudos pré-clínicos para a prática clínica, garantindo maior precisão e reduzindo a lacuna entre pesquisa e ensaios clínicos”. Desse modo, é possível ajudar a responder por que tantos tratamentos que funcionam em animais falham em humanos.

E o impacto para os pacientes e a sociedade?

Doenças neurodegenerativas e transtornos mentais são uma das principais causas de incapacidade no mundo. Só no Brasil, 1,2 milhão de pessoas vivem com Alzheimer, e cerca de 200 mil têm Parkinson. 

A dificuldade em traduzir descobertas científicas para soluções clínicas eficazes é um grande desafio. A saber, isso é, há muitos tratamentos que funcionam em animais e falham em humanos, devido a diferenças biológicas e metodológicas, o que gera desperdício de recursos e atraso nas terapias.

“Este é um momento crucial para a neurociência. Com tecnologia avançada e ciência colaborativa, podemos superar as limitações históricas e oferecer respostas mais rápidas e acessíveis para os pacientes”, declara Romano-Silva.

Sobre o NeuroTec-R

O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neurotecnologia Responsável (NeuroTec-R) segue os princípios da Pesquisa e Inovação Responsáveis (PIR). Em outras palavras isso significa dizer que incluem seis grandes agendas públicas como princípios metodológicos: Engajamento Público, Ética, Igualdade de Gênero, Educação em Ciência, Acesso Aberto e Governança. 

Sediado no Centro de Tecnologia em Medicina Molecular (CTMM) da Faculdade de Medicina da UFMG, o NeuroTec-R reúne pesquisadores do Brasil e do exterior, focados no estudo do cérebro e no desenvolvimento responsável.

Você pode acompanhar os avanços desta e outras pesquisas no site do NeuroTec-R (neurotecr.ctmm.digital) ou nas redes sociais do projeto @inctneurotecr

Texto: Marcus Vinicius dos Santos – jornalista CTMM Medicina UFMG

Atualizado em 16/12/2024, às 10h20, quando foi incluído link para a notícia completa (12 min.), criada no aplicativo ElevenLabs.oi


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