Ficar sentado demais aumenta risco de Alzheimer, mesmo para quem faz exercício; alerta para repensar o dia a dia

Ficar sentado demais aumenta risco de Alzheimer
O sedentarismo é muito mais do que a simples ausência de exercício físico. Trata-se de um fator de risco independente e relevante para a saúde do cérebro, alerta Marissa Gogniat. Não se trata de eliminar o descanso, mas de buscar o equilíbrio - Crédito: Freepik.com

Mesmo quem pratica exercícios regularmente corre risco aumentado de neurodegeneração se passa muitas horas do dia sentado. É o que mostra um estudo publicado na Alzheimer’s & Dementia, liderado por Marissa Gogniat, após acompanhar mais de 400 adultos por sete anos.


Se você (como muitos) fica horas sentado no trabalho e quando chega em casa se senta para assistir TV, ou fica “scrollando” o smartphone, esta notícia é um alerta principalmente para você. Mesmo que pratique atividade física regular. Mas é também para você, pessoa que já se aposentou e fica muitas horas do dia sentada ou deitada.

Já se sabia que comportamento sedentário prejudica a cognição, ou seja, a capacidade que o cérebro tem de pensar, imaginar, perceber, lembrar e resolver problemas. Do mesmo modo, acelera a perda progressiva dos neurônios, conhecida como neurodegeneração. 

Uma nova pesquisa, publicada em maio de 2025, na revista científica Alzheimer’s & Dementia, acrescenta a essa história um dado que a tornou um pouco mais complicada: ficar sentado demais aumenta risco de Alzheimer, mesmo para quem faz exercício físico regularmente.

Esta é uma das principais conclusões extraídas de um estudo liderado por Marissa Gogniat, professora assistente de Neurologia da Universidade de Pittsburg (UPMC) e ex-bolsista de pós-doutorado no Centro de Memória e Alzheimer Vanderbilt, com a coautoria de Angela Jefferson, professora de Neurologia e diretora fundadora do mesmo centro da Vanderbilt University, e diversos colaboradores.

Participaram 404 adultos, com 50 anos ou mais, todos sem diagnóstico de demência, acompanhados ao longo de sete anos.

Como o sedentarismo foi avaliado

Durante sete dias, os participantes utilizaram um actígrafo, dispositivo semelhante a um relógio, que monitora ciclos de sono e vigília ao longo de dias. 

Além disso, eles fizeram avaliação neuropsicológica e passaram por ressonância magnética cerebral em equipamento de alta resolução (3 Tesla. O comum é de 1,5 Tesla). Isso foi um grande diferencial dessa pesquisa porque essas medidas objetivas de comportamento permitem comparar melhor os dados observados.

Os pesquisadores realizaram análises estatísticas robustas e controlaram fatores como idade, sexo, escolaridade, saúde cardiovascular e status genético. 

O risco real: mais tempo sentado, mais sinais de Alzheimer

É bom dizer: a mensagem da pesquisa não busca gerar pânico e nem entristecer aqueles que já adotaram a atividade física regular em suas vidas. O grande objetivo do conhecimento é ampliar a conscientização da sociedade. Por isso ele precisa ser compartilhado de uma forma acessível, e promover e permitir o questionamento de quem lê, especialistas ou não da área.

Seria muito bom se, a partir dessa leitura, cada um de nós pudesse monitorar suas atividades diárias e tentar reduzir o tempo total que passa sentado, a cada dia. 

Afinal, o sedentarismo é muito mais do que a simples ausência de exercício físico. Trata-se de um fator de risco independente e relevante para a saúde do cérebro.

Em outras palavras, segundo Marissa Gogniat e seus colaboradores, maior tempo sedentário está relacionado à redução da espessura cortical em áreas vulneráveis à doença de Alzheimer. Há um aumento da probabilidade de declínio cognitivo e de alterações neurodegenerativas, independentemente da intensidade do exercício praticado. 

Foram observadas também a redução mais acelerada do volume do hipocampo, estrutura cerebral envolvida na formação e armazenamento das memórias de eventos e fatos. Além disso, piora na memória de eventos acontecidos, declínio na capacidade de nomeação e na velocidade de processamento das informações.

O risco foi ainda maior nas pessoas que apresentam o gene APOE-ε4, conhecido fator de risco para Alzheimer (Leia aqui, outras notícias relacionadas).

Cinco pontos-chave que o estudo revelou

  1. Atrofia cerebral: comportamento sedentário reduz o volume de áreas cruciais, como o lobo temporal medial, envolvido na memória e cognição.
  2. Piora cognitiva: participantes mais sedentários apresentaram pior desempenho em memória episódica e função executiva ao longo do tempo.
  3. Efeito independente: praticar exercícios físicos regularmente não anula os efeitos negativos do comportamento sedentário.
  4. Fatores controlados: as associações mantiveram-se robustas, mesmo após ajuste para variáveis demográficas e genéticas, como o status do APOE-ε4.
  5. Relevância clínica: intervenções devem focar não apenas no estímulo à atividade física, mas também na redução efetiva do tempo sedentário.

Mas, o que fazer? Mexer-se mais e, principalmente, sentar-se menos, na medida do possível…

O artigo demonstra a importância de se reduzir o tempo sedentário, principalmente entre idosos com risco genético elevado para Alzheimer.

Mas, embora nesta pesquisa não haja sugestões práticas de como fazer essa mudança de estilo de vida, outros estudos apresentam como sendo medidas eficazes as pausas ativas frequentes e o uso de mobiliários ergonômicos no local de trabalho, além da adoção de programas comunitários voltados para o bem-estar.

Você pode procurar saber se no seu Plano de Saúde ou se no Posto do SUS, perto da sua casa, existe algum programa de promoção da saúde, voltado a incentivar a aquisição de bons hábitos de vida e saúde. 

Os autores, porém, dizem que há necessidade de mais estudos. É preciso combinar fatores comportamentais, genéticos e biológicos. Essas novas pesquisas podem esclarecer ainda mais os mecanismos que conectam o comportamento sedentário à neurodegeneração e ajudar na formulação de estratégias preventivas.

Por que isso importa? O sedentarismo amplia o risco de neurodegeneração, mesmo com atividade física

Esse padrão comportamental, cada vez mais comum, ocorre tanto no ambiente de trabalho, onde se passa horas em frente ao computador, quanto no lazer, diante das telas.

Portanto, a pesquisa lança um alerta importante para a urgência de que sejam criadas políticas públicas, orientações clínicas e mudanças de comportamento individual, visando um envelhecimento mais saudável.

Não é para assustar, é para conscientizar!

Ficar sentado demais aumenta risco de doença de Alzheimer, mesmo para quem faz exercício físico regularmente. É porque aumenta o risco de neurodegeneração e de piora da cognição. A pesquisa, portanto, mostra a necessidade de políticas públicas que desestimulem longos períodos de inatividade e incentivem hábitos mais ativos.

A orientação é mexa-se mais, mas também sente-se menos! 

Dessa forma, pequenas mudanças na rotina podem produzir impactos significativos na saúde cerebral, especialmente no envelhecimento, e preservar a saúde cognitiva. Então, anota essa: ficar sentado demais aumenta risco de Alzheimer. Melhor revermos nossos hábitos, portanto. Eu já comecei. E você?

Relação com o NeuroTec-R

Este estudo se conecta aos princípios do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neurotecnologia Responsável (NeuroTec-R). Ele exemplifica como ciência e tecnologia devem atuar juntas para promover um envelhecimento saudável e consciente. E, ainda, evidencia a importância de integrar conhecimentos científicos, políticas públicas e iniciativas privadas. Promover um envelhecimento saudável é um dos eixos estratégicos do NeuroTec-R, alinhado com pesquisa e inovação responsáveis (PIR).

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[Leia o artigo original]

Increased sedentary behavior is associated with neurodegeneration and worse cognition in older adults over a 7-year period despite high levels of physical activity
Marissa A. Gogniat, Omair A. Khan, Judy Li, e col. Alzheimer’s & Dementia – Research Article, v. 21.
Publicado em maio de 2025
DOI: 10.1002/alz.70157

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Texto: Marcus Vinicius dos Santos – jornalista CTMM Medicina UFMG

Atualizada em 28/05/2025, às 8h30