Uma pesquisa com mais de 400 estudantes mostra que IA baseada em teoria da aprendizagem supera o ChatGPT: em retenção de conhecimento e em motivação. Outras pesquisas avaliam outras possibilidades e a opinião da sociedade conta muito
Estudantes que usaram o chatbot educacional ChatTutor, baseado em teoria da aprendizagem, aprenderam mais e gostaram mais da experiência do que os que usaram o ChatGPT. A conclusão vem de um estudo da Universidade de Copenhague, publicado em junho de 2025 na revista Educational Psychology Review. A pesquisa envolveu mais de 400 alunos, do ensino médio à universidade.
Foram comparados os efeitos de diferentes abordagens de IA no ensino de conceitos complexos de psicologia cognitiva. Nesse contexto, a proposta era que a IA pudesse atuar como um complemento à aula tradicional, promovendo engajamento ativo com o conteúdo.
Como foi o estudo
Os experimentos incluíram 175 universitários e 234 alunos do ensino médio. Todos acessaram o mesmo conteúdo, mas com abordagens diferentes. O ChatTutor é um chatbot — um software que simula uma conversa humana e interagir.
Com base na Teoria da Aprendizagem Generativa, ligada ao construtivismo cognitivo, ele foi programado para fazer perguntas, oferecer feedback personalizado e estimular cada aluno a ensinar o que aprendeu. A ideia é simplesmente “aprender é construir”.
O ChatTutor convida o aluno a organizar ideias, revisar conceitos e articular explicações, como propunham Piaget e Vygotsky, dois grandes teóricos da educação, e que têm em comum o fato de que ambos desenvolveram teorias de formação dos conceitos na construção do conhecimento.
Na prática, a ferramenta simula um tutor socrático. Em vez de explicar, conduz o aluno a pensar por si mesmo, oferecendo perguntas abertas e feedback ajustado. Em outras palavras, ainda, a IA foi programada para simular um humano, incentivando o raciocínio e a explicação ativa.
E o resultado foi o seguinte: alunos que usaram o ChatTutor mostraram maior prazer ao aprender, confiaram mais na ferramenta e demonstraram interesse em continuar usando o sistema.
Impactos possíveis na educação
Com base nisso, os autores defendem que o uso de IA em sala de aula deve focar no desenho pedagógico, e não apenas em proibir ou liberar seu uso. Os dados indicam que uma IA bem estruturada pode ampliar o aprendizado ativo, promovendo explicações, revisões e correções de erros por parte do aluno.
Mas tudo depende de como ela é usada. Se mal desenhada, pode limitar o pensamento. Se bem estruturada, pode ajudar a ampliar o raciocínio.
Efeitos no cérebro: há controvérsias
Já outro estudo, no entanto, traz novas evidências para o debate sobre os efeitos da IA no cérebro. Em notícia publicada na revista Nature, a jornalista Nicola Jones, aborda um outro estudo, de pesquisadores do MIT, liderados por Nataliya Kosmyna.
Eles alertam para o fato de que o uso precoce de chatbots apresentaram menor engajamento cognitivo ao longo do processo de aprendizagem. Mesmo após a retirada da IA, o padrão de engajamento cognitivo continuou baixo.
Esse achado levanta hipótese de que o uso excessivo de IA torna o cérebro mais passivo? Doutora no campo de interfaces cérebro-computador, Kosmyna recomenda cautela na interpretação. É preciso novos estudos. A investigação faz parte de um movimento mais amplo, que busca avaliar se a inteligência artificial (IA) está nos tornando cognitivamente preguiçosos.
Nicole Jones tem uma visão mais provocativa: para ela os dados já permitem pensar que há necessidade de que a IA seja usada para estimular o esforço cognitivo, como é o caso do ChatTutor. A IA generativa comum oferece a resposta de forma automática. O processo de fazer perguntas e debater segundo dúvidas reais provoca, desafia o estudante, no lugar de oferecer respostas prontas.
A esse aspecto, chamado “criação de sentido generativo”, a capacidade de reorganizar informações, gerar explicações próprias e atribuir novos significados, exige que se conecte ideias e transforme o que se aprende. Ele pergunta, desafia e sugere revisões. Isso ativa processos cognitivos fundamentais: memória, atenção, raciocínio e metacognição.
Mas, então, é o fim do professor?
“Nem de longe”, afirmam os autores. Há, no entanto, uma mudança no horizonte. Ao longo do tempo, o professor que ainda atue como um “transmissor de conteúdo” deve ser induzido a passar a ser mediador da aprendizagem. Aquele que apenas repete, sim, pode estar em risco. Mas o educador que orienta, provoca e guia continuará imprescindível.
A IA pode reforçar explicações, estimular reflexão e indicar lacunas. Mas não sabe o que emociona ou motiva. Só o professor entende esse contexto. A IA depende de boas perguntas, como o desenvolvimento da ciência. Por sua vez, ensinar a perguntar ainda é tarefa humana, e que precisa ser incentivada e aperfeiçoada.
E o que vem pela frente?
Os próximos passos envolvem testar o ChatTutor em outras áreas e em outras culturas. Os pesquisadores também querem integrá-lo a sistemas educacionais maiores. Para isso, será preciso investir em transparência dos algoritmos, proteção de dados e até em formação de professores.
Outras questões estão na mira: o uso contínuo de ferramentas como o ChatTutor mudaria a forma como aprendemos? Que impactos teria em longo prazo? Essas perguntas apontam que a decisão sobre o uso da IA não é apenas técnica. Ela é pedagógica, política, ética e social.
A tecnologia já existe. Outra pergunta agora é: o que fazemos com ela?
A proposta de integrar IA generativa à educação, com base em evidências e participação ativa do aluno, está alinhada aos princípios da Pesquisa e Inovação Responsável, que o INCT NeuroTec-R pratica. A tecnologia se torna melhor quando é desenvolvida de forma ética, inclusiva e comprometida com o diálogo social.
Leia o artigo original
Beyond the “Wow” Factor: Using Generative AI for Increasing Generative Sense-Making.
Makransky, G. e colegas. Educational Psychology Review, vol. 37, artigo 60, 2025.
Leia a notícia
Does using ChatGPT affect brain activity?
Jones, Nicola. Nature, vol. 643, 3 de julho de 2025, p. 15.
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Texto: Marcus Vinicius dos Santos – jornalista CTMM Medicina UFMG