Pesquisadores brasileiros, sediados em São Paulo e no Reino Unido, comprovam que, no tratamento de Parkinson, estimulação cerebral pode reduzir o tempo de recuperação do equilíbrio em até 60% dos pacientes. Bastam oito sessões e benefícios duram pelo menos 30 dias. A descoberta representa um passo importante na busca por soluções inovadoras para doenças neurodegenerativas.
Existem mais de 10 milhões de pessoas vivendo com a doença de Parkinson mundo afora, segundo a Parkinson Foundation.
Doença neurodegenerativa, o Parkinson aumenta a dificuldade de as pessoas manterem seu equilíbrio. Assim, quando algo a desequilibra, aumenta o risco de quedas graves, e que por sua vez pode levar à perda de independência.
Não se sabe exatamente por que acontece essa dificuldade, mas já se sabia que mudanças no cérebro, especialmente na parte que controla os movimentos, podem estar envolvidas. Além disso, os tratamentos disponíveis, tanto medicamentosos quanto fisioterápicos, nem sempre são suficientes para garantir uma melhora significativa na qualidade de vida.
E é aí que entra o desafio às comunidades médicas e científicas:
Como melhorar o equilíbrio e a resposta a perturbações sem depender exclusivamente de medicamentos que podem perder eficácia ao longo do tempo?
O estudo
Uma pesquisa liderada por cientistas brasileiros, de instituições de São Paulo e do Reino Unido, trouxe uma boa resposta.
Com apoio da Fapesp, CNPq e Capes, os resultados do estudo foram publicados na revista Gait & Posture. Conforme o artigo, foram analisados 22 pacientes com Parkinson, divididos em dois grupos: um recebeu a estimulação real, e o outro, um placebo.
A técnica foi aplicada em dias alternados, usando corrente de 2mA, durante 20 minutos.
Resultados impressionantes
Os efeitos positivos são duradouros, mantendo-se por pelo menos 30 dias após o tratamento.
- Redução de 60% no tempo de recuperação do equilíbrio após uma perturbação.
- Menor dependência de recursos cognitivos para manter a postura física.
- Movimentos mais automáticos, conforme indicou a diminuição da atividade do córtex pré-frontal, avaliada por eletromiografia e espectroscopia funcional no infravermelho próximo (fNIRS).
Apesar de segura e não invasiva, os pesquisadores ressaltam que a técnica deve ser aplicada apenas por profissionais especializados e sob supervisão médica.
Mais um pouco sobre o Parkinson
Doença neurodegenerativa, o Parkinson afeta o controle motor, incluindo o equilíbrio. Só no Brasil são mais de 200 mil brasileiros, segundo o Ministério da Saúde.
Nos Estados Unidos, mais de 1 milhão têm o diagnóstico. Segundo a Parkinson Foundation, esta é a segunda doença neurodegenerativa mais comum, depois do Alzheimer.
Os principais sintomas incluem:
- Lentidão dos movimentos voluntários
- Instabilidade postural
- Redução da expressão facial
- Depressão e ansiedade
- Distúrbios da fala e da visão
- Tremores
Famosos como Michael J. Fox, Robin Williams, Muhammad Ali e o Papa João Paulo II estão entre os pacientes que ajudaram a dar visibilidade à doença.
Como funciona a estimulação cerebral?
O uso da estimulação transcraniana por corrente contínua (tDCS), ou simplesmente estimulação elétrica transcraniana, se baseia na aplicação de uma fraca corrente elétrica no couro cabeludo para estimular áreas específicas do cérebro. Sem dúvida, a técnica é segura, indolor e não invasiva.
No caso do Parkinson, a estimulação cerebral pode reduzir tempo de recuperação do equilíbrio.Ou seja, a estimulação do córtex motor primário melhora a integração sensorial e a automaticidade dos movimentos. Com isso os reflexos de equilíbrio mais eficientes. A ótima notícia é que ele se mostrou muito eficiente para promover o equilíbrio e a resposta a perturbações em pacientes com Parkinson.
O futuro
A estimulação cerebral transcraniana abre novas perspectivas para o tratamento do Parkinson. Com efeito, a realização de novas pesquisas e novos desenvolvimentos, a técnica pode se tornar uma ferramenta essencial para melhorar a qualidade de vida de milhões de pessoas ao redor do mundo.
NeuroTec-R também desenvolve pesquisas na área
Este estudo destaca o potencial da estimulação elétrica transcraniana como ferramenta clínica promissora para melhorar o controle postural em pacientes com Parkinson. Sem dúvida, essa seria uma boa abordagem complementar às terapias medicamentosas tradicionais.
A pesquisa também abre caminho para futuras investigações sobre a aplicação de estimulação elétrica transcraniana em outras condições neurológicas. Além disso, ela pode otimizar os protocolos de estimulação dirigidos a maximizar os benefícios terapêuticos.
Isso é especialmente relevante para o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neurotecnologia Responsável (NeuroTec-R), uma vez que se busca inovações em neurotecnologia para melhorar a qualidade de vida de pacientes com doenças neurológicas.
O NeuroTec-R é um centro de pesquisa vinculado ao Programa de Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (Programa INCT). A saber, ele é voltado à pesquisa e inovação responsável em neurotecnologia. O objetivo do projeto e deste site é aproximar ciência e sociedade, mutuamente, ao mesmo tempo em que são desenvolvidos estudos de ponta é disseminado conhecimento científico, de forma acessível e direta.
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Leia o artigo original
“Eight sessions of transcranial electrical stimulation for postural response in people with Parkinson’s disease: A randomized trial”
Victor Spiandor Beretta, Diego Orcioli-Silva, Vinicius Cavassano Zampier, Gabriel Antonio Gazziero Moraca, Marcelo Pinto Pereira, Lilian Teresa Bucken Gobbi, Rodrigo Vitório
Gait & Posture, 2024. DOI: 10.1016/j.gaitpost.2024.08.076
Texto: Marcus Vinicius dos Santos – jornalista CTMM Medicina UFMG (Perfil)
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