Um relatório da Academia Americana de Pediatria alerta: os pediatras devem adotar papel ativo na prevenção de maus-tratos infantis. Avaliar riscos, apoiar famílias, encaminhar para serviços adequados e promover a disciplina positiva são algumas das ações que podem salvar vidas e melhorar o desenvolvimento infantil a longo prazo. Identificar sinais precoces de trauma e intervir na saúde mental também ajudam a prevenir transtornos mentais. Leia mais!
Os membros do Conselho sobre Abuso e Negligência Infantil da American Academy of Pediatrics (AAP) publicaram um relatório clínico que chama a atenção dos pediatras de todo o mundo.
“O papel do pediatra na prevenção de maus-tratos infantis”, não é só um texto técnico, mas um chamado à ação para a prevenção de vários problemas de saúde.
Afinal, é função desses especialistas, além de tratar e prevenir doenças, também promover a saúde e observar o desenvolvimento e o crescimento infantil. E é por isso que pediatras podem virar o jogo contra maus-tratos infantis.
A recomendação principal aos médicos é que eles incluam em sua prática alguma forma de contribuir para a construção de ambientes seguros para as crianças. Fatores de resiliência e proteção, como apoio familiar e segurança emocional, podem ser a chave para reduzir o risco de maus-tratos e fortalecer a saúde mental das crianças, por exemplo.
“Os pediatras sempre viram o valor de prevenir danos à saúde; isso não deve ser menos verdadeiro para os maus-tratos infantis do que para doenças ou lesões não intencionais”, afirmam os especialistas no documento.
Resiliência e Proteção: a arte de virar o jogo
Nem toda criança exposta ao estresse desenvolve traumas graves. Inegavelmente, algumas encontram na família, na escola ou na comunidade fontes de proteção que as ajudam a superar adversidades.
O relatório da AAP não só aponta isso, mas vai além, destacando cinco fatores essenciais que promovem resiliência e previnem maus-tratos. Vamos a eles:
- Fortalecimento emocional dos pais: Quando os cuidadores conseguem gerenciar o estresse e enfrentar desafios, criam ambientes mais seguros. Sim, pais emocionalmente saudáveis são a primeira linha de defesa.
- Redes de apoio: Amigos, parentes e serviços comunitários podem ser a salvação em momentos de crise. Não subestime o poder de uma boa rede.
- Conhecimento sobre desenvolvimento infantil: Pais que entendem o comportamento esperado em cada fase da vida têm menos chances de reagir de forma punitiva. Informação é poder!
- Acesso a necessidades básicas: Garantir alimentação, moradia e serviços de saúde reduz o risco de negligência. Básico, mas essencial.
- Comunicação e regulação emocional: Crianças que sabem expressar suas emoções e pedir ajuda são mais aptas a lidar com dificuldades. Ensine-as a falar, não só a ouvir.
Quando o estresse vira crônico
Então, pediatras podem virar o jogo contra maus-tratos infantis, que não são só uma tragédia no presente, mas deixam marcas profundas no futuro. Desse modo, o relatório aponta que experiências adversas precoces “podem levar a desafios cognitivos e dificuldades com a regulação do humor”.
E essas marcas podem persistir mesmo depois que a criança está em um ambiente seguro. Com toda a certeza, crianças expostas a ambientes abusivos têm maior risco de desenvolver dificuldades de aprendizado e transtornos psiquiátricos na adolescência e na vida adulta.
E não para por aí. A ativação crônica do sistema de resposta ao estresse pode resultar em sintomas físicos, como dores de cabeça, distúrbios do sono e problemas gastrointestinais. Por isso, os pediatras precisam estar atentos aos sinais de trauma infantil, evitando que sejam erroneamente diagnosticados apenas como transtornos de comportamento.
Intervenções Psiquiátricas: hora de agir é agora!
O relatório sugere que os pediatras integrem questões sobre saúde mental e trauma infantil em todas as consultas. Ferramentas como questionários podem ajudar a identificar sinais de estresse parental, depressão e dificuldades financeiras.
Além disso, a AAP recomenda o encaminhamento para programas de apoio psicológico e terapias baseadas em evidências para crianças com histórico de trauma.
E tem mais: evitar punições físicas e adotar uma disciplina positiva é crucial. Em outras palavras, programas como o Triple P (Positive Parenting Program) são citados no documento como iniciativas eficazes para reduzir casos de maus-tratos. Estratégias de educação respeitosa e não violenta são muito importantes para a saúde desses “futuros adultos”.
Apoio público e de políticas sociais fazem a diferença
O relatório não se concentra apenas no consultório. Por conseguinte, ele também destaca o impacto das políticas públicas na prevenção de maus-tratos.
Benefícios como licença parental remunerada, créditos fiscais e acesso a programas de nutrição e saúde reduziram significativamente os índices de abuso infantil.
Ou seja, investir em políticas que aliviam o estresse econômico das famílias é investir no futuro das crianças.
Pediatras na linha de frente
O relatório reforça que os pediatras podem virar o jogo contra maus-tratos infantis desempenhando um papel muito relevante na prevenção dessas ocorrências.
Ao avaliar riscos, apoiar famílias e encaminhar para serviços adequados, esses profissionais podem salvar vidas e melhorar o desenvolvimento infantil a longo prazo. E, convenhamos, não há missão mais nobre do que essa.
NeuroTec-R e a ‘mudança de chave’ responsável
O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neurotecnologia Responsável (NeuroTec-R) adota princípios e diretrizes que promovem a participação na pesquisa de membros da sociedade, comunidade científica, poderes públicos e iniciativa privada.
Certamente, as diretrizes da PIR têm relação direta com as orientações da APP. “Capacidade de resposta e mudança adaptativa” é uma dessas diretrizes, que em outra palavras, tem relação com a capacidade de a ciência “responder a novos conhecimentos, pontos de vista e circunstâncias – tanto em termos de comportamento, pensamento e estrutura das organizações”.
Abordagens amplas e inovadoras podem assegurar que a inovação em neurotecnologia ocorra de forma responsável, sustentável e alinhada com as necessidades da sociedade.
O que você acha?
Deixe seu comentário! inctneurotecr@gmail.com, no nosso Instagram @inctneurotecr, no LinkedIn do INCT NeuroTec-R
Explore mais sobre neurotecnologia e pesquisa responsável aqui, no site do NeuroTec-R.
Leia o Artigo Original
The Pediatrician’s Role in Preventing Child Maltreatment: Clinical Report. Pediatrics.
Stirling J, Gavril A, Brennan B, et al; American Academy of Pediatrics, Council on Child Abuse and Neglect. 2024;154(2):e2024067608. DOI: https://doi.org/10.1542/peds.2024-067608
Texto: Marcus Vinicius dos Santos – jornalista CTMM Medicina UFMG (Perfil)
Atualizado em 27/2/2025, às 17h20