Ferramentas gratuitas viabilizam compartilhamento de dados científicos sobre estudos neurocientíficos em grandes plataformas gratuitas, garantem reprodutibilidade e ampliam impacto dos investimentos públicos em pesquisa
Uma verdadeira revolução está acontecendo na forma como se faz ciência no campo dos estudos do cérebro. Apesar de depender exclusivamente de dados inéditos, pesquisadores já começam a usar bases públicas de dados. Com essa prática, eles buscam economizar tempo, dinheiro, vidas de animais de pesquisa, por exemplo.
A revelação está na coluna Perspectives, no The Transmitter, uma publicação online dedicada a notícias e comentários sobre pesquisa em neurociência, publicada ontem, dia 7/7.
Segundo Benjamin Dichter, fundador da CatalystNeuro, a ciência aberta está transformando a neurociência e tem potencial para reposicioná-la. Por exemplo ele cita que, com mais de 350 terabytes de dados disponíveis em arquivos públicos e gratuitos (Veja abaixo).
Para se ter uma ideia melhor do tamanho desse banco de dados é preciso entender a escala: 1 bit é a menor unidade de informação digital. 1 terabyte equivale a cerca de 8 trilhões de bits. Isto é, 350 terabytes representam aproximadamente 2,8 quatrilhões de bits. Ou, o suficiente para armazenar vastas coleções de vídeos, imagens e modelos de inteligência artificial.
Pandemia revelou o poder dos dados abertos na neurociência
Segundo o autor da coluna, durante a pandemia de covid-19, com os laboratórios fechados, milhares de pesquisadores como Jordan Farrell, da Universidade de Stanford, recorreram a dados públicos para continuar suas pesquisas.
Ou seja, Farrell usou bases do Allen Institute e da Universidade de Washington e descobriu que diferentes padrões de ondas cerebrais estão associados a estados mentais específicos. Acima de tudo, isso mostrou que é possível inovar sem coletar dados manualmente. Por certo é preciso saber onde e como usar as informações disponíveis.
Impacto do uso de dados públicos na neurociência
O reaproveitamento de dados desafia a ideia de que só descobertas com dados inéditos têm valor, afirma Dichter. “O foco agora está na qualidade das análises, criatividade e relevância dos resultados”, avalia o também pesquisador.
Esse movimento, avalia ele, democratiza a ciência: jovens pesquisadores, grupos com menos recursos e instituições em países em desenvolvimento têm acesso a dados usados por grandes centros internacionais.
Segundo Benjamin Dichter, laboratórios que ignorarem essa prática podem perder competitividade. A reutilização acelera publicações, reduz custos e evita pesquisas duplicadas.
Ferramentas gratuitas para explorar grandes bancos de dados cerebrais
O artigo também enumera algumas ferramentas, como Neurosift, e Pynapple. A saber, essas plataformas permitem analisar dados complexos sem instalação complicada.
Os arquivos seguem padrões como o do Neurodata Without Borders, um banco de dados de neurofisiologia. Ao propósito, ele oferece um conjunto de normas para compartilhar, arquivar, utilizar e desenvolver ferramentas de análise.
Entre os principais repositórios, destacam-se, também:
- DANDI: Mais de 350 terabytes de dados neurofisiológicos abertos;
- OpenNeuro: Mais de mil conjuntos padronizados de neuroimagem, com dados de quase 21 mil participantes humanos e animais;
- OpenScope: Bancos para estudo da codificação preditiva na visão;
- Brain Wide Map: Dados eletrofisiológicos avançados para mapear decisões visuais no cérebro;
- MICrONs: Combina imagens eletrônicas e registros eletrofisiológicos para entender redes neurais no nível celular.
Como usar essas plataformas?
Nesse sentido de facilitar o aprendizado, Benjamin Dichter conta ter criado um curso de verão gratuito: NeuroDataReHack. A saber, o curso tem duração de uma semana. A saber, a iniciativa é apoiada pelo Janelia Research Campus. Seja como for, seu objetivo é orientar os cientistas a usarem essas plataformas.
Ciência aberta e princípios FAIR são base para pesquisa responsável
Repositórios como OpenNeuro seguem os princípios FAIR (localizáveis, acessíveis, interoperáveis e reutilizáveis). Eles garantem organização e qualidade dos dados para facilitar sua reutilização. Esses princípios sustentam a pesquisa e inovação responsáveis, promovendo transparência, inclusão e retorno social.
A reutilização de dados no OpenNeuro já representa mais de 21 milhões de dólares em economia. Já outros estudos mostram que a padronização, uso de ferramentas integradas e a governança aberta aumentam a reprodutibilidade e aceleram descobertas.
O desafio cultural e o futuro da neurociência
Apesar dos avanços, o maior desafio é cultural. Dichter defende que revistas, agências e universidades incentivem o uso de dados abertos para evitar redundância e estimular a criatividade.
Reaproveitar dados não elimina a necessidade de novas coletas, mas exige justificativas rigorosas. Essa postura fortalece a credibilidade científica, dificulta manipulação de resultados e consolida a ciência aberta, colaborativa e ética.
Leia o artigo original
Neuroscience’s open-data revolution is just getting started
Benjamin Dichter. The Transmitter/Perspectives/Open neuroscience and data-sharing. Publicado em 7 de julho de 2025
Leia também
The OpenNeuro resource for sharing of neuroscience data
Markiewicz CJ e colegas. Revista eLife, 2021
A Comparison of Neuroelectrophysiology Databases
Subash P et al. Scientific Data. 2023
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Texto: Marcus Vinicius dos Santos – jornalista CTMM Medicina UFMG