O suicídio é uma realidade que atinge diferentes países e traz grandes impactos sociais. Ao lado da Automutilação, o fenômeno se fortalece como importante questão de saúde pública. Encerrando o mês de prevenção ao suicídio, o Setembro Amarelo, nossa notícia de hoje é positiva; e também útil para orientar ações futuras: a taxa de suicídio estabilizou. Mas, se precisar, peça ajuda!
A pandemia de covid-19 intensificou os casos de automutilação “não suicida” entre adolescentes, quando não há intenção de morte. Este foi um dos principais resultados de uma rigorosa revisão sistemática conduzida por pesquisadores do Centro de Tecnologia em Medicina Molecular (CTMM) da Faculdade de Medicina da UFMG.
Eles investigaram detalhadamente se houve mudanças na frequência de fatores de risco ligados à ideia de suicídio, às tentativas de suicídio e à automutilação em jovens.
Os resultados dessa análise rigorosa e profunda foram publicados na revista científica Frontiers in Psychiatry. Afinal, segundo o Ministério da Saúde, entre 2010 e 2019, portanto, antes da pandemia de covid-19, as mortes por suicídio aumentaram 43%. Ou seja, subiram de 9.454 casos, em 2010, para 13.523, em 2019. Os números dão uma ideia da importância social desse assunto.
O estudo
Coordenado pelos professores Débora Marques de Miranda, do Departamento de Pediatria, e Marco Aurélio Romano-Silva, chefe do Departamento de Psiquiatria, o estudo revisou 55 artigos focados em adolescentes com idade entre 10 e 19 anos, de diversos países.
Em comparação com os dados encontrados entre 2010 e 2019, a automutilação, a prática de cortar ou ferir o próprio corpo, cresceu na pandemia e sua prevalência ficou entre 17,6% e 27,9% nos estudos analisados. Já o número de tentativas de suicídio permaneceu estável.
Para garantir a confiabilidade dos dados, foi seguido o protocolo PRISMA (Itens de Relatório Preferenciais para Revisões Sistemáticas e Meta-Análises, numa tradução livre do inglês). Já os registros foram incluídos no Registro prospectivo internacional de revisões sistemáticas (PROSPERO).
Primeiro autor do artigo, o psiquiatra Danilo Bastos Bispo Ferreira explica que os principais fatores de risco se repetem em diferentes contextos: isolamento social, excesso de tempo diante das telas, conflitos familiares, dificuldades escolares e sintomas de depressão. “Não basta prevenir apenas o suicídio. A automutilação aumentou e pode ser porta de entrada para problemas mais graves”, alerta o pesquisador.
Caminhos para enfrentar o problema
Os pesquisadores defendem medidas como:
- capacitar professores para identificar riscos;
- apoiar famílias vulneráveis com assistência psicossocial;
- criar serviços de saúde mental acolhedores;
- promover campanhas contra o estigma e a favor da busca por ajuda.
Romano-Silva reforça que políticas públicas precisam levar em conta desigualdades sociais, gênero e perdas familiares. Débora Miranda acrescenta que pais e escolas devem observar sinais como ferimentos repetidos, mudanças de comportamento ou afastamento de amigos, pois a detecção precoce facilita o encaminhamento a tratamento especializado.
Próximos passos
E esses achados podem ser ainda mais abrangentes. Por isso, os autores sugerem que novos estudos nesse sentido possam também acompanhar os jovens ao longo do tempo, incluir regiões pouco representadas como América Latina e África, investir em intervenções precoces com apoio tecnológico e fortalecer redes de apoio em escolas e comunidades.
Eles também lembram que a convivência familiar, a harmonia em casa e o uso equilibrado da tecnologia podem reduzir os riscos de comportamentos autodestrutivos.
O estudo tem apoio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neurotecnologia Responsável (INCT Neurotec-R), uma iniciativa do CTMM UFMG, e que se constitui como uma rede nacional de estudos relacionados ao cérebro. Desenvolver ciência e inovação alinhadas à ética, à participação social e ao impacto positivo na vida das pessoas são os principais objetivos dessa rede de excelência.
Setembro Amarelo
No Brasil, os registros oficiais se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, quase 40 pessoas cometem suicídio por dia em nosso país.
Onde buscar ajuda em saúde mental
Informações práticas e confiáveis: CVV (188) com atendimento 24h por telefone, chat e e-mail; serviços do SUS; e canais da UFMG em Minas Gerais.
CVV — Centro de Valorização da Vida
Ligue grátis: 188
Atendimento 24 horas por telefone, chat ou e-mail. Voluntários treinados para ouvir sem julgar.
Acesse: www.cvv.org.br — chat e formulário de e-mail disponíveis no site.
SUS — Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)
Atendimento contínuo e interdisciplinar para pessoas em sofrimento psíquico. Serviços públicos e gratuitos.
Procure na rede municipal de saúde ou informe-se na unidade básica de saúde (UBS) da sua cidade.
Rede de apoio próxima
Converse com família, amigos, colegas, professores ou alguém de confiança. Uma escuta atenta já ajuda.
- Fale com alguém agora — diga que precisa de apoio.
- Se houver risco imediato, contate os serviços de emergência locais.
UFMG — canais em Minas Gerais
A UFMG publica lista de canais de atendimento especializado em Minas Gerais para apoio local e orientações.
Se você estiver em risco imediato, ligue para os serviços de emergência locais. Buscar ajuda é um ato de coragem; procurar apoio reduz riscos e amplia possibilidades de tratamento.
[Leia o artigo]
Suicidality and self-harm in adolescents before and after the COVID-19 pandemic: a systematic review
Danilo Bastos Bispo Ferreira, Renata Maria Silva Santos, Maria Carolina Lobato Machado, Victhor Hugo Martins Rezende, Patrícia Gazire de Marco, Marco Aurélio Romano-Silva e Débora Marques de Miranda
Systematic Review Article. Front. Psychiatry, v.16. 18 setembro 2025
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Texto: Marcus Vinicius dos Santos – jornalista CTMM Medicina UFMG
Atualizado em 1 de outubro de 2025, às 10h20