World Alzheimer Report 2025 destaca força da reabilitação; veja como demência e autonomia podem coexistir

World Alzheimer Report 2025 destaca força da reabilitação
Reabilitar não significa “curar”, mas manter a autonomia pelo maximo de tempo possível. Família unida e o uso de recursos tecnológicos e jogos podem ampliar engajamento - Freepix.com

Relatório global de organismo internacional que se dedica a promoção do conhecimento nessa área destaca o papel central da reabilitação das pessoas com doença de Alzheimer e outras demências, e recomenda mais cuidado com os cuidadores.


O World Alzheimer Report 2025 foi lançado em setembro pela Alzheimer’s Disease International (ADI). A publicação reúne experiências e evidências de mais de 100 países e, nesta edição, discute a reabilitação como estratégia central no enfrentamento das demências.

Segundo a ADI, mais de 55 milhões de pessoas vivem com demência no mundo. Até 2030, esse número pode chegar a 78 milhões. Não existe cura, mas o relatório mostra que a reabilitação é capaz de reduzir sintomas, prolongar a independência e aliviar a sobrecarga de cuidadores.

Além disso, a entidade defende que a reabilitação deve ser reconhecida como um direito humano básico e integrada aos planos nacionais de demência. O documento está disponível para download no site da entidade, gratuitamente, em inglês.

Estrutura do relatório: quatro seções complementares

O relatório está organizado em quatro grandes seções, cada uma reunindo artigos de especialistas, ensaios conceituais e estudos de caso. O leitor encontra, assim, desde a fundamentação teórica até experiências práticas em diferentes países.

A proposta busca traduzir o conceito de reabilitação em ferramentas úteis para profissionais de saúde, cuidadores, gestores de políticas públicas e até familiares que lidam com a demência no dia a dia.

Seção 1 – Componentes centrais da reabilitação

A primeira seção define o que significa reabilitar pessoas com demência. O ponto central não é “curar” a doença, mas maximizar a função e manter a autonomia pelo maior tempo possível. A seção apresenta como fundamentos desse processo: avaliação inicial detalhada, definição de metas SMART (específicas, mensuráveis, alcançáveis, realistas e temporais) e revisão contínua.

Outro destaque é o papel dos cuidadores, que precisam ser considerados “parte da equipe” de reabilitação. São eles que ajudam a implementar adaptações no cotidiano e garantem continuidade entre sessões clínicas e a vida real.

Além disso, a ADI destaca que cuidadores precisam de treinamento formal e suporte estruturado. Isso reduz o estresse, melhora a adesão do paciente e aumenta a chance de as metas de reabilitação serem cumpridas.

Seção 2 – Estratégias e métodos práticos

Nesta seção o relatório mostra alguns métodos concretos para atingir as metas de reabilitação. Terapia ocupacional, fisioterapia, fonoaudiologia, exercícios cognitivos, treino de mobilidade e adaptações ambientais estão entre as abordagens listadas.

O texto enfatiza que atividades do dia a dia, como cozinhar, usar transporte público, ler em grupo e conviver com a família, têm tanto valor terapêutico quanto sessões clínicas. Além disso, o uso de recursos tecnológicos e jogos adaptados pode ampliar o engajamento da pessoa com a realidade dos que o cercam.

Os cuidadores, nesse contexto, recebem destaque como facilitadores de estratégias práticas. São eles que aplicam lembretes visuais, organizam a rotina e incentivam atividades prazerosas. O relatório recomenda criar planos duplos: um para a pessoa com demência e outro para o cuidador, reconhecendo suas próprias necessidades de descanso e apoio.

Seção 3 – Implementação em diferentes contextos

E como colocar a teoria em prática? É o que a terceira seção aborda. São apresentados vários modelos de sucesso implementados em serviços de saúde, organizações comunitárias, lares de longa permanência e centros de memória. Cada país enfrenta barreiras próprias, mas em comum todos relatam falta de profissionais devidamente capacitados, desigualdade no acesso e carência de integração entre níveis de atenção.

Recursos digitais, como o teleatendimento, podem democratizar o acesso. Especialmente em regiões distantes de centros especializados. Capacitar profissionais de atenção primária para aplicar princípios básicos de reabilitação é outra recomendação central. 

E os cuidadores são como uma coluna de sustentação da rede de apoio. O relatório destaca a eficácia de grupos de apoio, que reduzem o isolamento e fortalecem vínculos comunitários. Também recomenda serviços de “cuidado de respiro” (respite care). Trata-se de contratar uma pessoa diferente para substituir o cuidador, temporariamente. Com isso ele pode ter um descanso e ter preservadas sua saúde física e mental.

Seção 4 – Economia e prontidão dos sistemas

O que é preciso para tornar a reabilitação viável em larga escala é o assunto central da última parte do relatório. O ponto de partida é o financiamento: análises econômicas mostram que a reabilitação pode reduzir hospitalizações e adiar a institucionalização, gerando economia para sistemas de saúde. Logo, sua importância é tanto social quanto econômica.

Sem recursos estáveis, porém, não há como expandir programas, contratar equipes ou manter qualidade. Os economistas Claire Hulme e Daim Syukriyah defendem a adoção de novos modelos de avaliação, como análise de impacto orçamentário e retorno social sobre investimento.

Nessa seção, os cuidadores aparecem também como chave de sustentabilidade econômica. Programas que incluem suporte estruturado a cuidadores podem reduzir custos em até 20% em cinco anos, mostrando que cuidar de quem cuida é tão essencial quanto reabilitar a pessoa com demência.

Um esforço global compartilhado

Além de artigos técnicos, o relatório dá voz a diferentes atores. Alguns deles participaram da transmissão on-line que promoveu o lançamento mundial do relatório, no dia 18 de setembro. 

Paola Barbarino, CEO da ADI, cobra maior financiamento e políticas globais. A professora Yun-Hee Jeon, da Universidade de Sydney, traz evidências sobre envelhecimento saudável. Já John Quinn, que vive com demência, e Glenys Petrie, cuidadora e pesquisadora, relatam suas experiências. A terapeuta ocupacional Jackie Pool apresenta práticas inovadoras em reabilitação.

O estudo de caso brasileiro foi apresentado pela professora Maria Aparecida Camargos Bicalho, desenvolvido junto com colegas da UFMG. A médica, vice-coordenadora do Serviço de Geriatria e Gerontologia do Hospital das Cínicas da UFMG, descreve o processo e a aplicação de planos de reabilitação de terapia ocupacional centrados na pessoa, via Sistema Único de Saúde (SUS).

O recado central

O World Alzheimer Report 2025 reforça uma ideia simples e poderosa: reabilitação não cura, mas transforma vidas. Para funcionar, precisa começar cedo, ser adaptada ao indivíduo, incluir cuidadores e contar com políticas de financiamento e treinamento profissional.

Com a campanha global #AskAboutDementia e #AskAboutAlzheimers, a ADI convida governos e sociedade a falarem mais sobre demência e a combaterem o estigma.

[Leia o relatório completo]

World Alzheimer Report 2025
Reimagining life with dementia – the power of rehabilitation (Em inglês)
Alzheimer’s Disease International. Londres: ADI, 2025.

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Texto: Marcus Vinicius dos Santos – jornalista CTMM Medicina UFMG