A ciência já sabe as causas, os sintomas e os impactos que este transtorno hereditário pode causar numa pessoa, da infância à vida adulta. Conheça mais a respeito, acesse recursos gratuitos da Understood.org e da CHADD e baixe a cartilha que preparamos para famílias e educadores
Imagine tentar focar em uma conversa enquanto dezenas de pensamentos disputam espaço na mente. Este é um dos problemas que podem ser enfrentados pelas pessoas que convivem com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, ou TDAH. Esta condição neurológica também pode afetar, com mais ou menos intensidade, atenção, controle dos impulsos e capacidade de organização.
O TDAH torna mais difícil gerenciar estímulos e manter o foco, mas ele não se manifesta da mesma forma em todas as pessoas. Na prática existem três padrões principais de apresentação, conhecidos como subtipos: Predominantemente Desatento, Predominantemente Hiperativo-Impulsivo e Combinado.
Entender o TDAH como uma diferença e não como uma falha muda tudo. É comum que uma pessoa consiga “hiperfocar” em tarefas que considera interessantes, mas se distraia rapidamente em atividades obrigatórias. As pesquisas com exames de imagem do cérebro mostram que este órgão amadurece de forma semelhante ao de quem não tem o transtorno. Porém, isso acontece em um ritmo mais lento.
O cérebro e a genética
De acordo com estudos compilados pela Understood.org, uma das mais destacadas entidades mundiais de conscientização sobre o TDAH, as duas principais origens do transtorno são os fatores genéticos e as diferenças no desenvolvimento cerebral.
A hereditariedade também pesa. Se um dos pais tem TDAH, há uma chance em quatro de o filho também apresentar o transtorno. Essa relação familiar reforça a importância de o diagnóstico ser estendido a adultos, inclusive aos pais que reconhecem em si os sintomas observados nos filhos.
Neste distúrbio do desenvolvimento neurológico, áreas como o hipocampo, o núcleo accumbens e a amígdala, associadas à atenção e à regulação emocional, desenvolvem-se com um atraso médio de três a cinco anos.
TDAH não é só coisa de criança
Por muito tempo, acreditou-se que o TDAH atingia apenas meninos hiperativos. Hoje já se sabe que meninas — e também mulheres — convivem com o transtorno. Muitas vezes de forma mais silenciosa, marcada por distração, esquecimento e ansiedade.
TDAH não desaparece com a idade, pelo menos para a maior parte das pessoas. Os sintomas é que mudam. A agitação da infância pode se transformar em inquietação mental na adolescência e em desorganização crônica na vida adulta.
E isso tem consequências na vida social, pessoal, amorosa, estudantil, profissional… Por isso, entender o transtorno ao longo da vida é essencial para oferecer o apoio certo em cada fase.
Impactos na infância
Na infância, o TDAH se manifesta por dificuldades de foco, impulsividade e hiperatividade. Essas características podem gerar conflitos na escola e em casa. Crianças com o transtorno muitas vezes tentam se concentrar. Mas, como têm uma dificuldade enorme para isso, podem ser interpretadas como desobedientes ou sem força de vontade.
Esse desencontro entre esforço e resultado mina a autoestima e pode levar à frustração e ao isolamento.
A CHADD (Children and Adults with Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder) alerta que a falta de diagnóstico e de apoio certos podem resultar em baixo rendimento escolar, problemas de convivência e maior risco de ansiedade.
Por outro lado, quando há intervenção precoce, o quadro muda. Estratégias simples, como a adoção de rotinas previsíveis, regras claras, reconhecimento das conquistas e acompanhamento psicológico, reduzem os sintomas e fortalecem o aprendizado.
Ambientes educativos adaptados também fazem diferença. Professores podem usar recursos como tarefas fracionadas, instruções curtas e visuais, pausas planejadas e assentos flexíveis. Essas medidas ajudam a transformar a sala de aula em um espaço mais inclusivo e produtivo.

BAIXE A CARTILHA
Associado ao Centro de Tecnologia em Medicina Molecular (CTMM) da Faculdade de Medicina da UFMG, o Núcleo de Investigação da Impulsividade e Atenção (NITIDA) desenvolveu duas cartilhas: uma para os pais e responsáveis e outra para os professores e para os dirigentes escolares. Clique aqui e baixe o exemplar da versão mais indicada para você.
Impactos na vida adulta
O TDAH não fica para trás quando a infância termina. Segundo a Understood.org, cerca de 10 milhões de adultos vivem com o transtorno nos Estados Unidos, e boa parte só recebe o diagnóstico depois de adulta.
Em adultos, as formas do transtorno são outras: dificuldade para organizar a rotina, cumprir prazos, administrar o tempo e manter a concentração. Esses desafios impactam diretamente o desempenho no trabalho e nas relações pessoais.
Muitos adultos com TDAH relatam sentimentos de culpa ou inadequação — especialmente após anos de esforços mal compreendidos. O segredo para lidar melhor com esses quadros está no autoconhecimento e na estrutura.
Rotinas claras, terapia cognitivo-comportamental, acompanhamento médico e técnicas de organização ajudam a equilibrar os sintomas.
Diagnóstico e tratamento baseados em evidências
Ainda não existe um exame laboratorial que “detecte” o TDAH. O diagnóstico é feito por avaliação clínica, com entrevistas, observações e questionários aplicados por psicólogos, psiquiatras e neurologistas. Isso exige que o profissional que presta este atendimento seja especializado nesse distúrbio.
O tratamento, por sua vez, combina medicação e terapia comportamental. Medicamentos estimulantes e não estimulantes ajudam a regular os níveis de atenção, enquanto a terapia ensina estratégias de foco e controle emocional.
A Understood.org alerta: O objetivo não é eliminar o TDAH, mas aprender a conviver com ele de forma produtiva. Não existem curas naturais ou milagrosas. O que funciona é a combinação de evidências científicas e o apoio multidisciplinar.
Apoio em casa e na escola
A CHADD recomenda que pais busquem grupos de apoio, mantenham comunicação constante com a escola e reforcem positivamente o comportamento dos filhos.
A Understood.org, por sua vez, oferece ferramentas gratuitas e materiais educativos, incluindo guias, vídeos e simuladores que ajudam a entender como o TDAH afeta a percepção e a rotina de uma criança. Tais recursos estão disponíveis em Understood.org/ADHD. Os textos são em inglês, mas, se preciso, podem ser traduzidos usando tradutores online.
Um novo olhar sobre o TDAH
A neurociência mostra que cérebros com TDAH funcionam de modo diferente, mas trazem potenciais criativos e cognitivos valiosos. Quando o diagnóstico é acompanhado de empatia e informação, ele deixa de ser um rótulo e se torna uma chave para o autoconhecimento e a superação.
Como resume o psicólogo Ari Tuckman, da Understood.org:
“O TDAH não define quem você é. Entendê-lo é o que permite que você floresça.”
[Leia mais em]
- Belsky, G.; Kahn, A. What Causes ADHD. Understood.org.
- CHADD. Parenting a Child with ADHD. CDC/CHADD.
- PNW Virtual Health. ADHD Awareness Month.
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Texto: Marcus Vinicius dos Santos – jornalista CTMM Medicina UFMG