O Centro de Tecnologia em Medicina Molecular deu mais um passo importante na tarde de hoje. Usando o biomarcador 18F-florbetabeno, fez exames em dois pacientes para detectar se existe e qual a quantidade de placas amiloide no cérebro, formadas pela doença de Alzheimer. Junto com outro equipamento, recém-adquirido, o SIMOA, será possível pesquisar marcadores em amostras biológicas e iniciar um novo avanço no diagnóstico da doença, mais precocemente
Foi realizado hoje, 23 de setembro de 2025, na UFMG, o seu primeiro exame de PET-CT cerebral com o uso do 18F-florbetabeno, um biomarcador específico para o diagnóstico da doença de Alzheimer. Pesquisas internacionais mostram que o marcador aumenta a confiança médica na diferenciação de demências.
Com essa realização a capital de Minas Gerais entra para um reduzido grupo de cidades brasileiras potencialmente capacitadas a identificar a doença de Alzheimer antes do surgimento dos sintomas.
O procedimento foi conduzido no Centro de Tecnologia em Medicina Molecular (CTMM) da Faculdade de Medicina da UFMG. “Um marco na medicina diagnóstica para o Estado de Minas Gerais”, avalia Marco Aurélio Romano-Silva, coordenador do CTMM e chefe do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da UFMG.
“Estamos diante de uma nova era no diagnóstico das demências. Quanto mais cedo conseguirmos agir, maior será a chance de mantermos a qualidade de vida dos pacientes por mais tempo”, resume o pesquisador. E o avanço não está apenas em fazer este novo exame. Pesquisa e inovação responsáveis também são fortalecidas no Brasil, elevando o nível de nossa autonomia no cenário internacional da medicina nuclear de alta tecnologia.
Por que o exame importa
O Florbetabeno (18F) é um radiofármaco cuja propriedade de “colorir”, ou se ligar, as placas beta-amiloide no cérebro facilita a análise médica do volume da proteína amiloide no cérebro das pessoas.


Por esse motivo, o exame de PET-CT com 18F-florbetabeno é específico para detectar placas de beta-amiloide no cérebro. Já se sabe que o acúmulo dessa proteína ocorre durante vários anos, silenciosamente. E que ela está associada à perda de memória, sinal característico da doença de Alzheimer.
Quando a imagem do exame dá negativo indica baixo risco de que o paciente tenha algum comprometimento cognitivo leve que possa evoluir para a doença de Alzheimer. Por outro lado, o resultado positivo pode ocorrer anos antes do quadro clínico de demência e, juntamente com outros exames, traz segurança e confiança no diagnóstico, tanto para o paciente quanto para o médico.
Um ponto muito positivo do uso desse radiofármaco é a segurança de uso em seres humanos. Ele já foi aprovado em vários países, inclusive pelas agências reguladoras de medicamentos reconhecidas como as mais rigorosas: a dos Estados Unidos (FDA) e a da União Europeia (EMA).
“A realização desse exame abre caminho para mais precisão no diagnóstico, estratégias de tratamento mais eficazes e mais humanizadas, melhorando o planejamento do cuidado”, explica a médica nuclear Hérika Martins Mendes Vasconcelos, responsável pelo primeiro exame.
PET Scan? O que é isso?
A tomografia por emissão de pósitrons, conhecida como PET Scan ou PET-CT, é um exame de imagem que permite ao médico analisar o metabolismo e a anatomia de um organismo de uma forma minuciosa. Ele começa com a administração ao paciente de um radiofármaco, um composto químico que combina elementos radioativos com medicamentos. Uma pequena dose da substância radioativa circula no organismo e se acumula em áreas de maior atividade, como tumores, ou regiões cerebrais com depósitos de proteínas.
O equipamento onde o exame é realizado é semelhante ao aparelho de tomografia ou de ressonância magnética. Tem o formato de um anel de dedo (enorme) ou de “boca de um túnel”. No entanto, ao contrário desses outros exames, é a pessoa que passa a emitir uma determinada onda para o aparelho. O PET capta a radiação e gera imagens detalhadas, permitindo identificar alterações que outras técnicas de imagem não detectam.
No caso do exame específico para a doença de Alzheimer, o florbetabeno se liga às placas de beta-amiloide no cérebro, se for o caso. Com isso, ele faz com que essas proteínas sejam identificadas na sua presença. Quando detectadas em fases iniciais, essas placas oferecem aos médicos a oportunidade rara de agir antes que os sintomas avancem.
SIMOA complementa diagnóstico precoce

Além do PET-CT, o CTMM da UFMG acaba de concluir a instalação também de uma outra tecnologia de ponta: o equipamento SIMOA (Single Molecule Array). Ele amplia a detecção de biomarcadores em estágios iniciais, ou seja, quando a intervenção clínica pode ser mais eficaz.
No campo das doenças neurodegenerativas, o SIMOA pode medir biomarcadores associados ao Alzheimer complementando as informações do PET-CT. A combinação das duas ferramentas — imagem cerebral e análise molecular — amplia a precisão diagnóstica e abre novas frentes para pesquisa em imunoterapia e tratamentos inovadores.
Precoce e acolhedor para paciente e família
O diagnóstico precoce não é apenas uma questão médica: ele tem impacto direto no dia a dia das famílias. Ou seja, permite iniciar tratamentos que podem retardar a progressão, à medida que sejam disponibilizados, preservando a memória e reduzindo sintomas, como desorientação e alterações de humor.
Estima-se que 1,2 milhão de brasileiros tenham Alzheimer, mas muitos não receberam diagnóstico. A chegada desses recursos em Minas abre novas possibilidades para pacientes que buscam respostas e para médicos que precisam de maior segurança clínica.
Com medicamentos experimentais focados em remover placas beta-amiloide já em testes avançados, o PET-CT com florbetabeno ganha ainda mais relevância. Ele pode selecionar pacientes elegíveis para essas terapias, otimizando recursos e aumentando as chances de sucesso.
Saiba mais em
Beta-amyloid imaging with florbetaben. Clinical and Translational Imaging
Sabri, O., Seibyl, J., Rowe, C., Barthel, H. 2015
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Texto: Marcus Vinicius dos Santos – jornalista CTMM Medicina UFMG